sexta-feira, 8 de maio de 2009

Ambulante

Cheguei na plataforma junto com o sol da manhã. Eu e outras oito mil pessoas. Já o trem, este se deu ao luxo de atrasar um pouco. Mas veio. Trazendo mais quinze mil pessoas. Por vagão. Eu poderia descer na estação seguinte e fazer baldeação, mas hoje, só hoje, decidi fugir da rotina e das coisas e ir a linha toda até a Grécia antiga. Depois de Mauá o trem começou a esvaziar, ainda bem. Passando pelo Rio Grande da Serra já eram uns poucos que sobravam.

Na estação Siracusa sairam uns ambulantes, entraram outros. Um barbudo de manto branco segurando uma caixa de papelão com uns livros e pergaminhos.

- Bom dia, senhores passageiros. O meu nome é Platão. O meu professor se suicidou e meus alunos são inadimplentes. Cortaram a luz da Academia. Eu poderia estar roubando, eu poderia estar vendendo. Eu poderia estar trabalhando. Eu poderia não estar enchendo o saco. Mas estou aqui pensando! Trago a vocês hoje mostras da realidade imaginada e sensível.

Ele remexe em suas caixas, joga os livros pro lado e pega ou pacote com outras coisas.

- Quem estiver interessado na realidade imaginada, tenho aqui um pouquinho desse chá feito com cogumelos colhidos por epicuristas nas encostas dos Urais, coisa finíssima. Leva cinco, paga dois, enxerga dez, garanto! Quem estiver interessado na realidade sensível, tenho essa coletânea pirata de CD's emo em mp3 que eu baixei da internet enquanto deveria estar trabalhando e não achava nada legal no Orkut. Tem de tudo! Lost Kids! For Fun, Simple Plan, Fresno, Green Day, Good Charlot, My Chemical Romance... Paga dois e leva três. Se chorar, apanha!

Um comentário:

Aline disse...

eu queria comprar uma outra realidaee pra mim, nem que fosse de um ambulante