sábado, 13 de novembro de 2010

Claustrofobia

Vou falar da poeira que se acumula no chão do meu quarto. Vou falar da rachadura que vi na parede do prédio. Vou falar da unha do pé que me incomoda. Vou falar de como é impossível desamassar papel. Vou virar as costas pra poesia. Vou desistir de perceber coisas que tocam o coração. Até que esqueçam de mim. A atenção é esse tipo de lenha que faz queimar uma chama narcisística dentro de cada um. Impossível ser diferente. Modéstia é um sobretudo que aquece o eu narcisístico e o esconde, não é o contrário. Esqueçam de mim e me deixem escrever em paz. Me deixem ser quem sou, nú de minhas censuras de mim. Despido de minha sede de olhares. Não quero escrever olhando para meu futuro de afetos. Não quero escrever por excesso de carência do mundo. Quero escrever para me livrar do mundo. Para tirá-lo de mim. Quero escrever pra olhar pra fora com a lanterna acesa. Não olhem pra mim, não quero cegá-los. Olhem pra fora, na direção que ilumino, e me deixem em paz. Vou falar da sujeira de pneu velho.

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