terça-feira, 20 de março de 2012

Coisas de estética

O que é que você quer de um livro? Eu fiquei chocado outro dia. Levei a uma amiga um livro sobre um cara que tinha dúvidas sobre a vida dos homens das cavernas e então decidiu passar, ele mesmo, um tempo vivendo em condições selvagens, em cavernas perdidas no mundo. E sem uma arma, sem uma lanterna ou pilha elétrica para o radinho ou o que quer que seja. Lá na última visita a casa dela, anuncia assim o livro a uma outra amiga:

- Ah, é um livro que o Adoniran me emprestou.

- Sobre o que é? É bom?

- É um cientista que tinha dúvidas sobre o modo de vida dos homens das cavernas e aí ele vai lá viver nas cavernas um tempo. Mas é muito chato, porque tem partes que fica descrevendo as cavernas em detalhes demais. Só interessa para metidos a cientistas, como o Adoniran mesmo. É meio chato!

Desculpe, desculpe... Não a obrigo a gostar do livro, claro. Mas há algo que se perdeu aí... Confesso, confesso: quanto ao livro em si, eu também achei a leitura muitas vezes pesada e pulei algumas partes. Mas isso não diminui em nada minha empolgação com relação à história como um todo, e mais anda, minha empolgação com relação ao feito desse cientista.

Acho que a apreciação das coisas humanas deve sempre olhar ao humano que está por trás da obra. O livro é uma pequena ondulação na superfície de uma realidade maior. Uma pequena parte do elefante, se preferir. Apreciar a arte pelo que ela contém em si, e nada mais, para mim parece uma espécie de consumismo cego. Nunca se trata da arte, apenas da arte. É uma coisa humana... há o contexto da vida emoldurando tudo. É por isso que eu me entristeço também em ver quem não sabe apreciar a música dos que estão a aprender música. Há pessoas que têm ouvidos apenas para as mais destacadas produções humanas da história. É um elitismo e, como todo elitismo, pobremente cego. Não vou mais desenvolver a idéia aqui. Este não é um ensaio acabado sobre o tema - não é nem um ensaio. Não é o melhor post da internet. É um texto sem chance de receber atenção daqueles que o inspiraram.

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