Penso seriamente em mudar de casa. De cidade. De país. De mundo.
Covardia. Impossível não sentir que é tudo uma grande covardia. Fobia que estou deixando crescer.
Medo de todas as pessoas no semáforo. Medo de todos os barulhos que o vento faz à noite no quintal, quando já estou na cama tentando sonhar com a abstração da paz.
Vou para onde? E as pessoas daqui? Essas pessoas todas que gosto de saber que estão por perto ainda que eu não consiga vê-las nunca por conta dessa rotina alucinante.
Um sequestro. A certeza de que o tiro viria.
Cinco meses.
Depois um assalto. A casa arrombada.
Duas semanas.
Outro assalto. O clarinete. A máquina fotográfica. Os computadores cheios de textos, fotos, músicas, leituras, idéias e lembranças.
Mais duas semanas.
Ameaças. Um maluco com a alma recheada de crack e um galão com cinco litros de gasolina na mão.
Penso seriamente em mudar de casa, de país e de mundo.
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