Não se trata de você. O Ministério da Cultura não tem a ver com artistas. Quer dizer, tem. Mas não é por isso que ele é importante. Não me interessa saber quais artistas sobrevivem ou não sem este ministério. O importante, e o que deveria estar em discussão, é o acesso à cultura. Você, artista, consegue se virar sozinho. Tem um trabalho reconhecido. Nunca teve um projeto que passasse por projetos de apoio do governo. Parabéns. O ministério da cultura pode não ter nada a ver com você mesmo.
Mas então me diga... Quantas vezes você utiliza dinheiro do seu próprio bolso para viajar a lugares distantes e realizar apresentações para pessoas que não podem pagar? De resto... Financiamentos indevidos devem ser combatidos. Regras inadequadas precisam ser alteradas.
Na política não existe linha reta. Na gestão de um país não existe rota direta. Adequações devem acontecer o tempo todo mas uma coisa é fundamental: não perder de referência o norte. Em muitos países avançados e com bom cenário cultural não há uma entidade autônoma dedicada exclusivamente à cultura.
Muitas vezes é uma área ligada ao ministério da educação ou alguma grande área qualquer. Mas o Brasil tem sua história própria. Tem sua inércia própria de ignorar a cultura. Ou melhor, ignorar a descultura daqueles que mais dela precisam. Um ministério autônomo facilita, dentre outras coisas, a fiscalização de suas ações. A denúncia de seus problemas visando melhorá-lo o quanto antes.
E, lembrando, caro profissional da cultura... o foco não é você. Acho sim escandaloso que artistas endinheirados como Ivete Sangalo ou outros "grandes nomes" (grandes contas) recebam dinheiro público para apresentações. Mas não acho que a briga seja por "deixar de pagar os grandes artistas para pagar os pequenos". O objetivo central de uma boa política pública de cultura deve estar centralizado, repito, nos destinatários... Cursos, teatro, música, acontecendo naquelas cidadezinhas abandonadas. Ou naquela periferia que é um mundo à parte. Aqueles lugares em que muito artista não vai topar ir nem pagando. A cultura precisa chegar a essas pessoas. E esta deveria ser a discussão.
E nem vi ninguém discutindo isso.
Vi gente reclamando que o ministério deveria voltar porque vai acabar dinheiro para atividades culturais. Vi pessoas falando que o ministério não deve existir porque dá dinheiro para quem não deve.
É mais ou menos o seguinte: todo mundo num farto jantar em torno de uma mesa bem recheada, discutindo sobre a fome no mundo, enquanto lá na calçada os mortos de fome continuam a cair pelos cantos.
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