sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Dói

Eu a amo há anos. Ela me vê como o melhor amigo. De longe, disparado: o melhor. Ligou aqui de manhã dizendo que estava louca para conversar comigo, daí transformei-me em segundos num ser humano banhado, penteado, cheiroso e arrumado, e lá fui, quase num teletransporte, com aquele zuwwwiiiíííiímmm de fundo e tudo o mais.

Ela estava despenteada, do jeito que a noite de sono a deixou. Chinelos de dedo. Óculos mais pendurados na cara do que encaixados sobre o nariz. Acho que flagrei alguma remela no olho direito. Linda. Lindíssima, não tinha competição... Eu a via, fosse como fosse, e tinha essa sensação dentro de mim, que só se verbaliza assim: linda! Ela sorriu também, pensando os pensamentos dela ao me ver. E desatou a falar:

- Cara, preciso te contar... Ontem fui a um happy hour. Você não imagina! Do nada, sei lá eu como, só sei que conheci um cara tãããão legal!

E ficava eu lá, melhor amigo, ouvindo as inusitâncias da vida dela. E eu lá, apaixonado, fingindo que não era eu ali. E eu lá, apaixonado, fazendo um esforço impossível para não ser eu mesmo e deixar que ela fosse ela própria, em paz.

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