domingo, 11 de agosto de 2019

Estética

Há pessoas que se importam muito mais com a foto do que com a paisagem. Que sentido há nisso?

- Gosta de literatura?

- Amo literatura, amo os livros!

- O que tanto gosta na leitura?

- As histórias, os estilos, a forma com que os grandes autores revelam os meandros mais escondidos da alma humana, em diversas situações distintas, é apaixonante!

- E por que diabos você não quer a casa cheia de gente no sábado!

- Não gosto de bagunça!

- Gosta de literatura e não gosta de gente?

E esse é só um ponto... O que dizer então dos críticos, de forma geral? Críticos são seres inferiores. Em geral eles têm um conjunto vastíssimo de informações prontamente disponíveis em seus cérebros, e são capazes de fazer associações rápidas entre essas informações e as obras artísticas que analisam. O que, em princípio, tendemos a associar a alguma espécie respirante de cognição minimamente desenvolvida. Engano.

Tendo uma clara visão do desobjetivo da vida e entendendo que a felicidade é a melhor experiência que um ser vivente pode desfrutar, podemos sem grande dificuldade entender que inteligência é a habilidade de utilizar-se dos recursos disponíveis num dado contexto para alcançar a felicidade ou aproximar-se dela tanto quanto possível. Nessa definição de inteligência, fazendo-se uma comparação entre um crítico, uma pedra e um imbecil, temos que o imbecil sofre uma vantagem fenomenal. Em suas mãos, tudo é transformável em algo feliz. A pedra recai no ponto intermediário, sendo que nada em contexto nenhum afeta-lhe o humor em nenhuma direção. Já o crítico está no extremo oposto do espectro de inteligência, como o ser mais ignóbil que as estranhas combinações de aminoácidos jamais conceberam... Isso porque são extremamente hábeis na arte de colocar tudo em uma perspectiva desanimadora. Não há nada no mundo, aos olhos dos críticos, que não apresente sérios problemas, sérios vícios, desvios da perfeição...

Sei que aqui muitos argumentarão...

- Mas péra lá! Então está dizendo que devemos aceitar tudo no mundo como se fosse algo bom, sem jamais enxergar pontos em que as coisas possam ser melhoradas? Quer que a arte jogue ao lixo seus critérios? Que a capacidade de discernimento do cérebro humano seja jogada às favas, às cucuias, ao diabo que a carregue?

Não, não. Não estou colocando em minha definição de inteligência, em sua conexão com a importância da felicidade, a capacidade crítica. Trata-se na verdade de um foco na POSTURA crítica. Trata-se de uma atitude, de uma forma de vida. Explico melhor... Suponha que está assistindo um filme bem idiota, feito às pressas, com pouco orçamento e sem o menor insight filosófico. Assuma, apenas, que o filme foi feito por novatos em cinema que se divertiam com o que estavam fazendo. Podemos assumir que, sem precisar ser um especialista na arte das telinhas, você é plenamente capaz de enumerar centenas, se não milhares, de defeitos nesse filme. A atuação dos atores, escolha de cenários, iluminação, sentido das tomadas, sequencia do roteiro, ênfases escolhidas para a história... e assim vai. Minha questão é: por que diabos esse conhecimento deveria, obrigatoriamente, minar sua capacidade de se divertir com o filme e fazer da experiência de assistí-lo algo desanimador e tedioso? Será que seu claro discernimento sobre os problemas existentes acabam por minar sua capacidade de enxergar, para além da névoa densa de críticas, a alegria e a naturalidade humana que se esconde por trás do trabalho?

Note que não estou querendo inferiorizar os críticos por eles serem capazes de tantas observações contundentes sobre os aspectos deploráveis da maioria das obras humanas de qualquer espécie. Estou querendo inferiorizá-los porque são chatos sem graça, e considero gente assim uma espécie de existência menor. Fossem eles chamados a participar da elaboração da obra, o que teriam sido capazes de fazer ali, durante o nascimento da arte, com todo seu conhecimento crítico? Posso até assumir que teriam induzido substanciais melhoras (embora não julgue essa a possibilidade mais provável), mas é para isso que a capacidade crítica deve servir: para promover melhorias sempre que as ocasiões para tal se tornarem propícias, pois isso está de acordo com nossa visão de felicidade e nossa definição de inteligência: promover uma melhoria em algo que está nascendo é algo produtivo e que gera realização e alegria em todos os envolvidos. Criticar, sem nada produzir com isso, algo já existente, gera o que? Apenas nos priva de um tempo precioso da vida que poderíamos ter investido na arte da identificação de aspectos felizes da existência.

Podem dizer que sou incoerente por criticar os críticos. Onde na vida está escrita uma imposição suprema por coerência? Ao menos, no resto do tempo, sou feliz.

Nenhum comentário: