Mais duas horas e já poderei acordar. Mas nem durmo direito, fico acordando o tempo todo. Escuto as pessoas no corredor. Às vezes conversam animadas. Às vezes empurram carrinhos barulhentos. Macas. Escuto pela janela o barulho de compressores de ar automaticamente ligando e desligando. Ligando e desligando. Numa metáfora mecânica horrível para as outras "máquinas" que estão no prédio. Humanos ligando e desligando. Ligando e desligando. Até não ligar mais. Não há cortina na janela. O vento às vezes entra e às vezes desiste. Uso como travesseiro minha jaqueta de andar na moto, toda contorcida sobre si mesma. Não tenho direito a uma cama. Só a este sofá reto e desconfortável. Meu tio acorda. A comadre já está cheia de urina. Ele mal consegue se mover. Olha para mim com vergonha de dizer que mal consegue se mover. Levo a comadre ao banheiro, jogo todo aquele xixi na privada, a limpo com um pouco de água corrente para evitar a formação de odor mais forte e levo de volta para ele. Volto a me deitar. Mais esta noite. Logo amanhece. Mais algumas horas. As últimas horas.
quinta-feira, 23 de novembro de 2017
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