quarta-feira, 22 de julho de 2020

Das mortes

Estou lendo o que escrevi onze anos atrás. Lá pelos idos de 2008. Nem sei onde a vida estava. Sei que eu dizia outras palavras, de outros jeitos. Gosto de algumas das coisas que li. Mas gosto de um jeito que incomoda, de um jeito que assusta. Gosto como quem encontrou um livro interessante. Eu não sei quem escreveu. Estou descobrindo coisas que eu não imaginavam que existiam. E foram escritas por mim. Não sei se é uma catástrofe das minhas pobres sinapses ou se é uma transformação da minha alma. Só sei que sou outro. Que alguém de mim morreu. Não escreveria outras coisas como aquelas, com certeza. Mas não deixei de ser um extrapolador. Sei que a escrita é só um dos muitos cheiros da alma. O que aconteceu com minhas palavras, minhas vozes, meus olhares, meus amores, meus toques, minhas risadas, minhas atenções, meus medos? Tudo mudou. Tudo morreu. Tudo é outro. E nada reconhece ter sido outro.

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