Aí entendo.
Aí entendo que sou eu. Sou eu, não é?
Porque faz sentido. Faz um sentido enorme.
Eu não vim até aqui por amor a você.
Eu vim até aqui para fugir de mim.
Estava cansado de sonhar. Estava cansado de amar.
Estava cansado de tentar sonhar.
Estava cansado de tentar amar.
É claro que um suicídio resolve, mas eu não sou desses. Sou certinho demais. Meus dramas são todos imaginados, nunca piso muito além das encenações.
Eu me matei.
Simbolicamente.
Retirei-me da minha vida.
Desapareci minha vida de meus arredores.
Outra casa.
Outra rua.
Outra cidade.
Outro país.
Outro continente.
Outro idioma.
Outras músicas.
Outros amores.
Outras vidas.
Outras vidas.
Outras vidas.
Sou eu a desistir de mim.
Por isso ainda não lhe deixei.
Porque você tenta me apagar.
Quando tenta me segurar na cama vendo NetFlix, tenta me apagar.
Quando não quer conhecer meus novos amigos e dividir a vida comigo, tenta me apagar.
Quando não se interessa pelo que eu escrevo, tenta me apagar.
Quando não me convida para os eventos de tatuagem para me colocar no seu mundo, tenta me apagar.
Quando não gosta que eu fique cantarolando pela casa porque os barulhos te incomodam, tenta me apagar.
Quando não vê nada de empolgante nos livros que compro, tenta me apagar.
Quando não se importa de viajar sem mim, tenta me apagar.
Quando não se interessa por ouvir meus passados, tenta me apagar.
Quando não tem vontade de aprender as coisas que eu amo ensinar, tenta me apagar.
E eu sem entender de onde vinha minha covardia em prosseguir.
Mas agora entendo.
Eu tentei me apagar. Você foi minha cúmplice maior.
Você é o caixão em que eu mesmo trancafiei minha alma, e pelo qual paguei caro, e agora acho uma desistência estúpida tentar sair.
Mas a vida, a revelia, sempre insiste: vive.
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