Madrugada. Cinco pessoas no carro, eu no banco da frente, passageiro. Conversávamos de tudo. Risadas na volta pra casa. Piadas com nossas vidas. Nossos passados que se entrecruzavam em histórias várias da infância. Semáforo vermelho: paramos.
- Olha a loirinha aí, você ia nela não é, se sela não tivesse seus quarenta anos já!
Olhei a tal para conferir. Que quarenta anos que nada. Mas só tinha um jeito de confirmar a dimensão do erro. Abri o vidro, cabeça pra fora:
- Ei! Posso fazer só uma perguntinha?! Quantos anos você tem?
Ela não me olhou. Olhou pra frente, tensa. Séria. Músculos do pescoço contraídos. Parecia amaldiçoar o semáforo que permanecia vermelho indiferente ao seu desespero de sumir dali. Meus amigos todos me condenaram: isso não se faz!
O que é que há com o mundo? "Isso não se faz!" Isso o que? Falar com outras pessoas?
- Ela deve ter pensado que a gente ia assaltá-la! A essa hora da noite!
Ah, claro! Pois é mesmo uma nova modalidade de assalto, veja só. Quantos anos você tem, pergunta o assaltante. Vinte e dois, responde a vítima. O nobre assaltante consulta então uma lista. Deixe-me ver... Vinte, carteira, vinte e um, o carro, vinte e dois, bolsa... E então grita: passa a bolsa!
A mitologia do medo esfumaça a vida!
domingo, 26 de abril de 2009
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