O céu convidava a voar! Azul, desse azul infinito que vem de onde foi prá até aonde se vê. As árvores todas verdes. As flores contentes. As lápides secas e legíveis. Era um bom dia também para se caminhar pelo cemitério. E uma lápide, em particular, me chamou a atenção. Nela lia-se...
"Julgaram-me depressivo. Julgaram-me dependente de fracassos inventados. Tolos! Leram em minhas tristezas um certo despropósito em existir. Não! Pois é justo agora, neste leito pleno de felicidade que me julgo pronto para morrer. Não construí nenhuma felicidade em minha vida fechando os olhos para a tristeza. Sempre a olhei nos olhos, à mesma altura. Sempre a abracei forte, levava-a comigo pelas caminhadas. Destes, destes todos que me tomam agora por triste lendo as palavras escondidas em meus diários debaixo da escada, de vocês é que sinto pena. Desta felicidade solitária segregadora dos sentimentos todos do mundo. Queria que experimentassem ao menos uma vez a sensação de fazer a própria Tristeza, companheira ao seu lado, rir de seus comentários. Além do mais, que outra amiga me mostraria com tamanha dedicação, os esconderijos da originalidade? A vida não é a felicidade! É o nascer da felicidade. Assim como a arte não é o quadro. Não é a Monalisa. Não é uma tela de Van Gogh. Arte é a tela em branco na hora que a tinta molha. É desenterrar a cor. Agradeço à tristeza por cada segundo de sua companhia. E agora que ela se foi, em protesto retiro-me também, desta que foi uma vida incompreensivelmente feliz."
sexta-feira, 10 de abril de 2009
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