Aí tinha aquele garoto que todos pensavam conhecer. Eu vi o jovem numa noite de música e conversa. De blues e mentiras. De gaitas e amores. Quieto num canto, por vezes quase ignorado. Abraçado e olhado noutras. As garotas gostavam dele, ah! Ah gostavam sim. E ele realmente parecia um paspalho abichalhado de tão imune que era aos abraços, aos carinhos, às bundas todas ali por se apalpar.
Enganaram-se porém todos os que foram superficiais no entendimento desse ostracismo. Ele estava de luto. Estava de luto de si. Havia um eu morto dentro de si. Morto a cada dia. E ele velava. Chegava em casa. Deitava no teto da sala e olhava para as coisas todas incrédulo. Incompreensível essa mania de apego ao chão. O chão não serve para nada. O chão não lhe servia para nada.
Diziam que ele não tinha tanto assunto. Ele ficava quieto engolindo todos os assuntos, olhando. Era tudo ao mesmo tempo na cabeça dele. O violão. A gaita. O zelador reclamando fazia parte da música que ele ouvia. O refrão seria outro completamente outro se a cerveja não se derrubasse ao tapete. A ficção mudaria de gosto se aqueles romances todos não se fizessem e desfizessem assim quase desnudos diante de seus olhos.
Achavam que ele às vezes se isolava e não fazia parte de nada, quieto num canto. Mergulhado em seu mundo, sabia que um mundo era um só. Fazia parte de tudo.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
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