Você por acaso já acordou e, ao olhar em volta, ao olhar pra você... Ao olhar pela janela... de repente sentiu essa profunda sensação de não ter certeza de quem é? Sua vontade para as coisas do dia não existe, você não a encontra. Seus trabalhos não fazem sentido. Não há um desespero, uma razão profunda para que você saia da cama e vá movimentar-se pelas próximas horas. Pouca diferença faz sair ou não. Nenhuma diferença faz. Seu dinheiro chegará da mesma forma. As pessoas lhe tratarão bem, com apreço, quer você vá quer você fique. Nada mudará no mundo. Seu existir se iguala a um inexistir e você então fica atordoado diante da magnitude transuniversal dessa incontornável insignificância. Já se sentiu assim? Não é nada interessante...
O mundo continua lá fora a despeito total do que sinto aqui dentro. À revelia do que faço, do que deixo de fazer, do que sou, do que não sou.
Li que os físicos detectam no espaço a presença de matéria escura pelo efeito gravitacional que ela exerce à sua volta. Um sujeito sem gravidade social é efetivamente um sujeito sem massa social? Sou um humano verbalizado, letrado, vestido e vacinado, e ainda assim, de certa forma, um apêndice da sociedade.
Não se interessam pelo que penso do petróleo, das crianças doentes, da fome, das doenças, das desigualdades ou das guerras. Eu também, para todos os efeitos mensuráveis, diante de todas as marcas que estou deixando para os arqueólogos de daqui a mil anos, também não me interesso por nada disso.
Já acordou assim algum dia?
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
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