É claro que eu achei que você iria dar um sinal de vida. Não que eu ache certo uma proximidade. Eu ainda tenho dúvidas sobre quem você é. Se é a pessoa que eu amei e perdi, ou se é a pessoa de quem estou aliviado de me distanciar. Com seu silêncio bélico, contudo, fico mais inclinado à segunda hipótese.
sexta-feira, 27 de abril de 2018
Autoconhecimento
Sou um monge tibetano sem um himalaia para chamar de meu. Sem um manto vermelho no qual me enrolar. Sem um sino para martelar numa rotina regrada. Alguns livros para carregar. Um espaço para caminhar. E minha existência segue. Igual à de todos os demais.
Despertar
Tudo é texto. Tudo é um texto esperando por ser escrito. Os passarinhos se alimentando com as migalhas do quintal pela manhã. Os meus colegas de trabalho mostrando a idiotice adulta a que chegaram com comentários pornográficos esdrúxulos sobre absolutamente tudo. A atenção da empregada a miudezas nos detalhes da arrumação. O cheiro de querosene trazido pelo vento em frente ao hangar. A caixa de e-mails bagunçada. A pilha de livros com conhecimentos sonhados. Tudo é texto esperando por ser escrito.
UTI
Eu tenho um carinho enorme por você. Você tem uma importância na minha vida que nem imagina. Mas não quer te ver de novo. Não tão cedo. De que valeria este encontro? Não preciso provar para ninguém que superei a dor de sonhos impossíveis. E não superei. Apenas consigo fingir. Mas dói.
Médio prazo
De nada adianta, no fundo, conhecer a contribuição do dióxido de carbono e do metano para o efeito estufa. De nada adianta aperfeiçoar os modelos computacionais para calcular o clima daqui a cinquenta ou cem anos. As pessoas não irão se convencer da necessidade de mudança porque o nível médio de educação e cultura no mundo não condiz com a gravidade do problema. Não se trata de uma ação antecipada para amanhã. Ou para daqui um ano. Nesse horizonte de décadas, séculos, um maior nível de abstração e uma alfabetização científica é necessária. Mais que isso: os valores estão errados. Um carro maior. Uma casa maior. Mais luzes. Mais coisas fabricadas a custo de energia. Países medindo seu sucesso relativo pela métrica de quanto valem as florestas cortadas. Não há como ser esperançoso aqui: a consciência mundial atual é altamente suicida e não dá sinais de mudança.
quinta-feira, 19 de abril de 2018
Rotina matinal
Talvez porque o sol nascendo no horizonte tenha essa evocação tão forte de um início, um começo, com tudo o mais pela frente, é que nessa hora do dia funciono melhor para meus estudos, para minhas reflexões, para tudo aquilo que diz respeito ao futuro. A noite não. A noite é o horário em que sigo em marcha. Continuo um trabalho que já vem de longa data. Tenho coragem de encarar aquelas tediosas formatações de planilha, do formato dos parágrafos dos relatórios. Essas são as tarefas que ficam para a noite. A manhã não. Não posso ofender a manhã com coisas tão mecânicas. Estudar um novo idioma, que um dia vai ser usado em um novo país, uma nova viagem. Rascunhar textos que um dia serão publicados. Pensar em pessoas que quero ver de novo. Sonhar com conquistas. Aprender uma música nova. Esses são meus banquetes matinais.
quarta-feira, 18 de abril de 2018
AINDA VIVOS
Eu tive certeza de que eram os últimos segundos. Não sei porque continuei lutando. Não sei porque tentei controlar a situação. Só sei que deu certo. Não foi um mérito meu. Foi sorte. Nada que conheço sobre a física do mundo diz que deveríamos sobreviver. Fomos perdoados pelo acaso. O que fazer com isso? Como usar esse presente?
terça-feira, 17 de abril de 2018
Sorte
Que feliz presente do acaso para você, poder viver recebendo aplausos de quem não a conhece realmente.
segunda-feira, 16 de abril de 2018
Nobre coração
Eco Zulu
Métricas
domingo, 15 de abril de 2018
Irmão
sábado, 14 de abril de 2018
Indiferenças
Números
sexta-feira, 13 de abril de 2018
Acidentes a vista
Vimos um atropelamento na avenida principal. Um jovem assaltante, perseguido por uma viatura policial, fugia em sua bicicleta. Ao cruzar a avenida desesperadamente na frente de outro veículo foi por este atingido e lançado talvez uns dois metros em direção ao céu. Estávamos no carro à frente. Eu o vi despencando de volta no asfalto duro. Pensei que estivesse seriamente ferido mas ele se levantou e, depois de tontear poucos segundos, pô-se de volta em fuga. O policial seguiu atrás, correndo. Notei que não havia nem mesmo sacado sua arma.
Dentro do carro meus colegas dividiam-se entre o júbilo de terem visto um atropelamento e a frustração de que o bandido continuava vivo. "Deviam ter metido pipoco logo, pá pá pá! Ficava já ali, no chão, um a menos." Vibravam como quem assistiu a um filme emocionante e comentava suas cenas à saída do cinema.
Não estão prontos para enfrentar o mundo real. As contradições e as nuances da vida que não é uma simples divisão de mocinho e bandido como no cinema.
quinta-feira, 12 de abril de 2018
O Futuro que nunca acontece
De onde vem essa lista de afazeres da vida, que nos torna tão desesperados em cumprí-la?
Tenho uma sucessão de dias em que estou buscando o mais interessante a fazer e é aqui que cheguei. Faltou planejamento? Faltou controlar mais meu destino?
Estou explorando o mundo de um modo que ninguém fez antes. Tenho consciência disso. Não é um caminho pronto. Ninguém sabe onde vai chegar. Mas sigo insistindo na ideia de que aproveitar a trajetória é melhor do que se desesperar com o destino. Tem sido uma viagem interessante. Por vezes solitária, por vezes cheia de surpresas incríveis.