segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Pela rede afora

- Você é feliz?
- Não sei, mas sei que você é direta.
- Não aguento mais as perguntas de sempre. De onde você é? Quantos anos têm? Com o que trabalha? E também acho que isso não interessa muito.
- Entendo. Mas essas coisas são parte da resposta. Não tem muito tempo que eu mudei para cá e agora os meus amigos estão longe. Tenho uma namorada, mas é isso. Sinto falta de algumas coisas. Mas não sei se sinto falta dos amigos, se sinto falta de conseguir usar melhor o meu tempo e levar meus projetos adiante. E você?
- Eu às vezes me sinto cansada. Tenho dois filhos. Uma mais velha, com meu ex-marido, e uma menina de três anos, com um namorado. Eu sou viciada nele, mas isso é um problema.
- Viciada em que? Como assim?
- Viciada no amor. Ele bebe. Tem exagerado. Mas eu sinto falta. Volto para ele.

Eles estavam distante. Mas se olharam. Se ajudaram.

Ainda não existe uma devida sociologia da rede. A humanidade não consegue entender nada a tempo, enquanto acontece, e depois não se interessa pelas velhas coisas da história. Ficam então abertas as duas possibilidades.

Primeira possibilidade:
A rede permite que eles resolvam suas crises internas descobrindo outras pessoas similares com quem a troca de ideias, sentimentos e impressões vai enriquecer a vida. Efeito remediador.

Segunda possibilidade:
O relaxamento produzido pela troca de ideias entre as duas pessoas vai aliviar as tensões da vida real permitindo que uma vida problemática se prolongue. Efeito analgésico.

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