segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Volta

Sabe, eu queria me abrir com você. Não porque eu ache que lhe deva algo em honestidade, pois embora eu tenha o impulso de buscar um dia a mesma nobreza que em você é tão natural, a mesma postura firme e transparente, não sou idiota a ponto de contrariar meus impulsos hesitantes por conta de um raciocínio mecânico. Eu queria me abrir com você, e é por conta dessa vontade, simplesmente uma vontade de me abrir. De contar coisas pra você como quando andávamos conversando pelas calçadas do campus ainda com folga no horário. E eu simplesmente falava. Não ponderava falar isso ou deixar de falar aquilo. Falava porque as palavras, de repente, saiam. E hoje não faço isso. E logo vou te ver de novo, e não farei isso. E vou desejar tanto que você volte. Só não entendo mais que volta vou querer. Se quero que você volte comigo ao passado em que não estávamos atrasados nem para a aula, nem para o resto todo da vida, e podíamos ter o prazer infinito de uma conversa absolutamente insignificante, prazer que só uma conversa assim desinteressada pode trazer. Ou se quero que você volte para o velho mundo mesmo, para bem longe, com promessa de não voltar nunca mais, que volte para outro mundo, outra galáxia, outra era, outro universo, tão longe que não fará mais a menor diferença falar ou não falar isso e aquilo. Tão longe que não faça mais sentido eu me proteger tanto assim de meus impulsos e aí então não restará mais nada a não ser a liberdade total de me abrir com você, porque aí, assim tão longe, nada mais que eu possa dizer conseguirá ser sério o suficiente para transformar nossa conversa em algo além de uma simples conversa. Sou inocente por querer essa inocência de volta?

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