sábado, 22 de fevereiro de 2020

As vozes dos outros

Ela leu um trecho de um livro pra mim. Um trecho da Clarice. Como não me encantar? Resolvi ler para ela também. Não era nada ao pé do ouvido. Enviávamos leituras pelo WhatsApp. Essas distâncias de hoje. Enviei para ela trechos bem escritos do Antônio Prata e coisas engraçadas do Gregório, do Millôr. Enviei reflexões profundas do Erasmo e de Platão. Ela enviou trechos da Virgínia, poesias do Drummont e coisas de autores que eu nem conhecia. Claro que nos apaixonamos. Mas o sucesso era o próprio anúncio da falha. Nos apaixonamos pelas vozes dos outros sem antes pararmos para ouvir, com a devida atenção, nossas próprias vozes.

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