No fundo no fundo, ainda que com aspirações exóticas e revolucionárias, sou um careta bem estático. Aqui estamos no terceiro milênio de um mundo fervendo a internet e à liquefação baumanniana da existência e eu consigo a proeza olímpica de me formar em uma boa universidade e permanecer cinco anos em uma mesma empresa cheia de velhos e que paga pouco. Sou uma espécie exótica em extinção. Mas minha proeza olímpica não alcançou proporções guinnescas porque recebi cartão vermelho: fui demitido. Em tempos de crise isso deveria me levar ao desespero total. Talvez até leve, já que do futuro ninguém sabe direito, mas confesso que até aqui a experiência está sendo bem interessante. Ser demitido, pra mim, foi assim:
Voltei a falar com outras pessoas da empresa. O pessoal do RH, do setor de benefícios. Gente simpática. No dia de fazer a tal da homologação, preenchimento chato de papéis na presença do pessoal do sindicato, pude conhecer muita gente interessante, velhos e jovens, dos mais diversos setores da empresa, que também estavam tomando um burocrático pé na bunda. Histórias das mais diversas. As realizações de uns, os sonhos de outros. Só gente dessas com quem dá prazer conversar por horas. Será que não demitem ninguém chato? Será por isso que tem tanta gente chata ainda empregada por aí? Fiquei, confesso, aliviado por ter sido demitido. Algo de legal deve existir em mim.
sábado, 25 de novembro de 2017
Minha primeira demissão
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Um comentário:
Querido Adoniran,
levei dois desses históricos pés na bunda, um ao final de 2016, ao fazer um esforço para conseguir me libertar de uma relação profissional que já havia deixado de ser profissional há tempos, e outra no meio do ano passado. Meu maior medo sempre foi esse, ser demitida. Na minha cabeça, o caminho narrativo acabava, em 2 segundos, na rua. Morando na rua, dormindo nas calçadas. Que medo louco que o mundo nos impõe para jogar outras coisas piores guela abaixo.
Pois é, estou ainda viva e com casa, um bem bonita e aconchegante, inclusive.
Compartilho da mesma dúvida sobre quem mantém seus empregos e outros, como nós, que estão à procura de novos espaços. São pessoas tão interessantes. Talvez o peso saia dos nossos ombros quando o que temíamos chega e voltamos a ser nós mesmos, sabe? Acho que foi um pouco disso que senti em mim e nos próximos que passaram por coisas parecidas.
Não vou dizer que a vida informal é fácil. Mas a gente se ajeita. E esses contatos tão ricos ficam mais frequentes.
Um super abraço e boa sorte nos novos caminhos,
Mari
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