domingo, 8 de dezembro de 2019

Fim

Ontem terminei mais um relacionamento. Mais um, pois é. Como estou? Essa sensação de meia molhada de chuva descendo pela garganta à força, e olha que fui eu quem terminei hein, por ela nós estaríamos juntos até sabe-se lá quando. Mas terminar também é difícil, não importa o que digam. Será que a conversa derradeira nunca vai ser amigável? Sei lá, de repente os dois entendem ao mesmo tempo que não vai rolar, que não tem como dar certo, e se descobrem querendo conversar em direção a um mesmo objetivo. Seria possível?

- Oi Gabi, tudo bom? Precisamos conversar...

- Pois é Carlos, eu tava mesmo te procurando, tinha umas coisas pra te falar também.

- Sério? O que é?

- Ah, sei lá, fala você primeiro.

- Não, pode falar você...

- Olha, sei lá, é que meu assunto é meio sério, sabe?

- O meu também Gabi, e não quero esperar mais pra falar disso, mas você está me deixando preocupado, aconteceu algo?

- Não Carlos! Não aconteceu nada! Quer dizer, aconteceu e não aconteceu, sabe? Mas tenho uma coisa pra falar que não pode esperar.

- Olha, meu assunto é sobre a gente, sabe. Então, se você tem algum outro problema sério aí, sei lá, a gente pode conversar disso depois, primeiro me diga o que aconteceu!

- Mas meu assunto também é sobre a gente!

- Sério?

- É!

E os dois se olham, curiosos...

- Sabe, Carlos... Faz um tempo que eu me sinto meio incomodada, entende?

- Entendo.

- Entende?

- É, entendo. Eu também me sinto um pouco incomodado, sei lá, parece que as coisas estão engripadas, não estão combinando bem.

- Pois é, exatamente! Tô sentindo a mesma coisa!

- Está?

- Estou! Olha, não acha que era melhor a gente por um ponto final nessa história?

- Sabe, eu acho sim. Eu tava pensando nisso vindo pra cá. Afinal, nós temos tantas coisas boas pra dividir um com o outro, e temos que achar a melhor forma de nos colocarmos um na vida do outro.

- Isso! E o que eu tava vendo, o que anda acontecendo é que sermos um casal não é essa melhor forma.

- Nossa Gabi, tirou as palavras da minha boca! Se continuarmos juntos, vamos acabar nos odiando!

- Pois é, e não tem porque nos odiarmos, se conseguirmos ser bons amigos. Se isso exigir que não fiquemos mais juntos, tudo bem.

- Tudo bem, as coisas têm que seguir seu caminho, não é? A vida não pode ficar parada insistindo numa idéia que já provou não funcionar.

- Ai Carlinhos, como você me entende!

- Pois é, pelo menos isso a gente tem de bom, né? A gente consegue conversar como se um já soubesse o que o outro pensa.

- Se as pessoas conseguissem se entender assim por aí, já pensou?

Os dois se olham, sorrindo.

- Querido, me dá um abraço?

Os dois se abraçam.

- Nunca pensei que fosse achar no mundo uma mulher com sua sobriedade. Meus amigos jamais acreditariam se eu contasse.

- Bobagem... Eu é que nunca pensei que encontraria um homem capaz de falar com tanto desembaraço sobre essas decisões difíceis.

- Oh, querida!

- Ai, querido!

- Me beija?!

E os dois se beijam. Se deitam. Se amam. Se misturam indissoluvelmente, unidos pela mesma certeza sobre todas as diferenças que existem.

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