sábado, 7 de dezembro de 2019

Miragens

Anos atrás, olhei adiante e vi meu futuro. Hoje, pés no futuro sólido e palpável, olho para trás e vejo meu passado. Tenho a sensação de que, em nenhum dos momentos, a visão está realmente nítida. Quantas coisas mentimos a nós mesmos, como se já não bastasse a avalanche de enganos naturais de jultamento que jamais perceberemos!

Minto para mim sobre a natureza do tempo. Minto para mim sobre minhas limitações pessoais. Minto para mim sobre o tamanho dos meus sonhos. Minto para mim sobre meu julgamento sobre as outras pessoas. Minto para mim quanto a minha preocupação com o mundo. Minto para mim quanto ao tamanho do meu caráter.

Vivo em minha mente, e aí tomo o cuidado de ser alguém invejável. Outros não sabem, não acessam a minha mente, não conhecem meus pensamentos. Minto sobre eles todos. Faço em minha mente com que saibam.

Minto sobre a admiração que recebo do mundo. Minto a mim mesmo sobre os outros e sobre mim.

E não digam que essa mentira destrói a verdade. Não, não me venham com essa superficialidade pobre. Essas mentiras todas são o alicerce das minhas verdades. É aí que vivo. É esta a casa cujos tapetes e paredes quero em ordem.

Mentira.

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