quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Acordes

Vou pegar o carro do meu pai. Escondido. Vou lá na casa do Guilherme. A galera tá falando que eu canto bem, deve ser verdade. Já pensou se dá certo? Viver de música. Nada de ir pra faculdade... A faculdade deve ser uma versão piorada da escola. Na escola, pelo menos, as pessoas acreditam que há algum futuro pela frente. Na faculdade já se sabe que nada vai dar em porra nenhuma, daí a galera só quer saber de ficar no bar e de empurrar tudo com a barriga. Esforçam-se, aliás, em desenvolver uma barriga melhor para uma missão tão nobre.

E se meu pai vier atrás de mim? E se eu bater o carro? E se a polícia me parar?

Mas a Cris vai estar lá quando eu chegar. Ela vai ver eu chegando dirigindo o próprio carro. Tá certo que vai ter um monte de playboy com carro rebaixado, turbo, coisa e tal. Mas eles já trabalham. São maiores. O meu carro pode ser zoado, pode nem ser meu, mas tem toda essa ousadia por trás. Quem pode competir com isso?

E se eu estiver jogando meu tempo fora? E se a vida não for nada além de estudar, trabalhar e pagar boletos entre uma fralda e outra? Talvez eu esteja jogando meu tempo fora.Talvez eu esteja alimentando ilusões. Talvez nenhuma dessas pessoas valha a pena.

Muitas perguntas. E não consegui responder a nenhuma delas em meus devaneios do Jabaquara ao Tatuapé.

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