Há um tempo havia ali uma estante estilo futurista, para a época. Coisas que os anos setenta sonhavam para o novo milênio. E muitos enfeites de plástico, cores vivas, espíritos alegres. Há hoje uma cadeira de perna solta, mal pregada. Poeira acumulada nos cantos, dessas que se pode juntar aos ponhados com a mão mesmo. Um pó branco se acumulando nas quinas: pintura da parede que vai descascando. A parede não quer mais esperar por novas alegrias e se está indo embora.
No quintal havia um pé de limão, chão de terra e cheiro de vida. Crianças brincando com seus brinquedos simples, madeiras, bolinhas e carrinhos. Alheias ao preço das coisas e mergulhadas no valor daquele momento. Hoje só há ali o azedo ácido do vazio. Tudo é cimento. Onde antes era o jardim, terra viva, cimento. Onde antes estava o pé de limão, cimento. Onde antes corriam as crianças coloridas de sorrisos e gargalhadas, cimento. A construção retirou o aspecto rústico daquele cantinho de cidade que mais parecia um lar de caipiras. Está tudo mais urbano: mais quadrado, mais cinza, mais morto.
Pelas bandas de cá um metro quadrado agora vale milhares de reais. Talvez vendam a casa. Talvez usem o dinheiro para comprar outro lugar. Um lugar mais alegre. Que imóvel vem com crianças e alegrias?
As torneiras pingam. O teto desaba pedacinhos minúsculos por dia. A pintura descolori e se esvai em poeiras, poeiras que se misturam aos lixos não varridos de outros cantos, trazidos pelos ventos, que se acumulam em todas as frestas. Elas ainda vivem ali. O irmão mais velho casou. Os filhos casaram. O marido de uma foi embora e a outra nunca casou mesmo.
Olhando bem, a casa continuava fielmente fazendo sua parte. Continuava fielmente ecoando a alma de seus habitantes. Uma pena que agora tudo o que havia por ecoar era este frio vazio e empoeirado de vidas que não se riem juntas...
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