Você é um pai pra mim. Você confiou em mim quando eu era criança e ninguém mais acreditava em nada de nada de mim. Você me dava responsabilidades. Deixava a chave de casa comigo. Deixava eu preparar o barco para as viagens. Falava para os outros de mim com orgulho: o agregado da família, inteligente, adulto.
Era algo tão intenso que aqueles que queriam tirar sarro da situação me chamavam com voz irônica de "o menino prodígio", uma tentativa de exagerar um tratamento que era bom.
Hoje não nos vemos mais. Meses sem nos falarmos.
Toda vez que eu visito, a família me recebe muito bem.
Mas algo está quebrado. Talvez algo sempre tenha estado assim: quebrado.
Eu segui a carreira em que você acreditava. Me tornei médico, como você. Nada de dedicar a vida aos barcos. Ou ao cinema. Ou à filosofia. A mesma carreira.
Ontem foi dia dos pais. Liguei para meu pai. Não você, meu pai mesmo. Sei tão pouco da vida dele. Não liguei para você. Você não é meu pai. Você é só a pessoa que me criou e que me incentivou a acreditar em mim. Mas não teve tempo de entender meus sonhos. Talvez faltou me conhecer um pouco antes. Um pouco mais. Não sei se sou uma espécie de decepção ou de fracasso por querer largar a carreira.
Desculpe eu não entender das formas apropriadas para dizer "obrigado". Tenho muito a agradecer, eu sei. Obrigado.
Mas tem caminhos na minha vida que eu não posso aprender com você. Nem com meu pai oficial. Nem com amigos. Nem com ninguém mais.
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
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