Meu tio Thobias é meio careca. Não sei se por algum particular da genética ou porque os cabelos lhe vão fugindo, angustiados, em busca de algo melhor. Quando jovem adorava histórias de ficção. Isaac Asimov, Perry Rhodan, esses mundos imaginários. Logo cedo na vida os namoricos às escondidas trouxeram o primeiro filho e o casamento. E a responsabilidade de trabalhar. E os tempos livros eram emoldurados de condenações:
- Larga esses livros, Thobias!
Convenceu-se. Largou os livros. Cuidava de instalar prateleiras novas, retirar o bolor do teto do banheiro, arrumar a goteira na torneira da pia. Já o fazia antes, mas agora não tinha suspeitas de jogar tempo fora. Suas distrações descobriram os bares e as cervejas. Passando o tempo de um jeito tradicional não iria despertar suspeitas. Em momentos de discussão, ainda era incentivado:
- Afe... por que não vai lá pro bar com seus amigos?
E ia...
- É gente, estou me sentindo igual naquela história em que um astronauta vai sozinho a um planeta que ninguém conhecia, sabe?
- Ai ai Thobias, você nem tá bêbado ainda e já vem com essas suas histórias? Manda mais uma aí e vem jogar mais um truco com a gente!
E assim suas paixões se diluiram na normalidade. Trabalhou na prefeitura. Trabalhou como eletricista. Trabalhou como carregador. Há alguns anos trabalha de motorista de um carro funerário. Talvez seja sua desesperada tentativa de esconder, por contraste, que quem está morto é ele.
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