segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Bêbado

O Sol já ia baixo no horizonte, mas o calor ainda era forte, o ar abafado. Com o paletó enrolado no braço, ia subindo ladeira acima, sujando seu sapato de terra. Deixava para trás o lado rico da cidade, voltando do trabalho.

Reparou num menino brincando em frente ao barraco. Um carrinho imaginário montado com restos de madeira. Cinco anos. Nove talvez. Não parecia muito bem nutrido.

Naquele fim de dia, desistiu de ir direto para casa e resolveu passar no bar. Precisava esvaziar a cabeça das injustiças do dia-a-dia. Precisava esquecer o quanto seus esforços eram pisoteados. Precisava imaginar uma existência diferente daquilo tudo.

Chegou no bar. Desanimou-se uma gota mais. Largados de si jogados pelos cantos, uns alegres, ignorando esses fatos todos, jogavam baralho, bilhar ou dominó. Outros simplesmente se esqueciam.

Mas um dos esquecidos olhou diretamente pra ele e falou, em tom severo:

-Ah, sabe... eu encontrei, o pior é que eu encontrei... faz tempo já, está comigo...

-O que foi que você encontrou?

-Hum! A cura pro mundo meu jovem, a cura pro mundo...

-Pois divida isso conosco então! -, resolveu insistir, buscando conseguir boas risadas às custas do álcool alheio.

-Dividir? Hum... Não dá! E nem de nada adiantaria...

-Por quê?

-Porque ninguém acreditaria em mim... E conto ainda meu jovem, veja: se houvesse no mundo alguém que acreditasse que achei a cura do mundo, o mundo não precisaria mais de cura! Percebe?

O bêbado estava certo. O jovem trabalhador percebeu que também não acreditaria na cura para o mundo. Levantou-se. Foi para casa e virou dois copos de pinga pura antes de se jogar na cama.

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