segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

E no fim, são todos humanos

As reputações são maniqueísticas, mas as almas nunca... Todos lutamos dentro de nós mesmos para equilibrar os desejos mais díspares num eu que sacie nossa vontade de ser sem destruir nosso vício de sonhar.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Mente perturbada

Ele só queria ir para o seu recanto de solidão. O seu pequeno reinado da eterna bagunça, com coisas jogadas pelos cantos, livros desarrumados, papéis cheios de notas ignoradas. Queria se sentir leve, calmo, e quem não gosta de se sentir assim? Mas não podia esconder, ao menos de si mesmo, a raiva que tinha da ignorância da mãe e da tia, manifestas naquela discussão à mesa. E, em seu quarto, aquele pequeno reinado particular, a irmã ocupava o computador, deixando-o longe da solidão de si.

O pai ligou. Saudades? Não... O pai dava conselhos em sua vida, mas e daí? Sentia é raiva, raiva mesmo. Que sabe ele, afinal, para sair assim aconselhando a esmo conselhos genéricos, desprovidos de qualquer detalhe? Nunca quis tanto ficar sozinho, e ainda assim a solidão é sempre temível. Nossos sonhos e nossa auto-consciência criam terremotos cataclísmicos quando se descobrem em discordância.

E as saudades e as carências, como organizá-las? As bagunças dos livros e revistar jogados, CD's guardados em caixinhas erradas, essas eram mais compreensíveis, muito mais digeríveis: ele sabia como contorná-las, e deixar tudo assim era apenas uma questão de escolha, de perguiça. Mas quanto à bagunça de sentimentos era o oposto. Havia o desespero de pôr tudo no lugar, e não se tinha a menor idéia de como fazê-lo. Ele lembrou daquele cabelo deslizando na ponta de seus dedos enquanto via aquele olhar adormecer. Lembrou do cheiro dela. Da voz dela. Mas os fatos se atropelaram de tal maneira...

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Alternativas

Filho! Se chover, você fecha a janela?

Fecho! Hum.... pensando bem... melhor não... acho que vou deixar aberta mesmo! Se chover, vou plantar soja no meu quarto, que tal? Talvez, se todo mundo deixasse todas as janelas abertas durante as chuvas, as casas se encharcariam um pouco mas teria menos água para as enchentes. Se chover, vou deixar a janela aberta e salvar a cidade. Plantar soja e, se alagar muito, criar carpas.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Desabafo



Eu sinto saudades, porra! Sinto raiva de tudo o que aconteceu, e tenho meu orgulho que não me permite falar isso na sua cara... Não sei se é orgulho ou se é excesso de bom senso... Afinal eu sei que a gente não pode ficar junto, não muito junto. Não um casal desses com promessas... Não confio que seja possível saber o que se vai sentir amanhã, e não posso me deixar acreditar em qualquer promessa ou declaração sua. Você não tem idéia do quanto pode me deixar triste, não é mesmo? Não tem, não é possível... Tivesse, seria desnecessário eu falar aquelas palavrinhas que fizeram tanta falta da segunda vez... Afinal de contas, de onde acha que tiro tanta atenção, preocupação, vontade de que você esteja bem... Que outra explicação haveria para dar conta da magnitude da minha tristeza frente a uma ausência tão boba... Eu ali em frente ao seu apartamento, no horário combinado, e sua presença desmentida num telefonema de dez segundos... "hoje não vou poder, fica pra outro dia". Só. Fiquei tão mal, mas tão mal... Mas não quis contar. Claro que não! Não que eu não pudesse falar dessa tristeza em si, mas ela implica em coisas que, se você não percebe, melhor que não saiba...

Não quero que você fique perto de mim apenas pelo bem que faço às suas carências. Danem-se elas. Quero que você deixe suas carências de lado para aproveitar seu lado mais feliz, que eu sei que existe e que você sufoca perdida em tristezinhas desnecessárias. Viva mais! Vá aos lugares, olhe as coisas que quer olhar. Faz falta alguém pra tocar, abraçar, beijar e o que mais queira, mas isso não pode ser a única cola a unir duas pessoas... não em uniões não-efêmeras.

Soubesse da vontade que eu tenho de te dar uma abraço apertado... deixar meu rosto colado ao seu, falar das minhas saudades e sentir que o tempo vai passando em volta à toa... É por medo que não faço isso? Talvez... Gostaria de ser tão feliz com você. Mas ninguém tem um acesso tão escancarado às minhas tristezas quanto você. Não deveria ser assim. Eu deveria gostar menos de você. Não me importar. Seria mais fácil roubar tuas alegrias pra mim...

Que saudade de merda! Dos infernos! Que vontade desesperada de ficar um tempo junto com você, no sofá, assistindo qualquer coisa, até a preguiça soldar a gente e você descançar em paz deitada no meu ombro... te dar um beijo na testa de leve um segundo antes de você cair de vez no sono... eu tenho um ódio infernal de gostar tanto assim de você...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Mente prostituída

Trabalhar ligado à indústria do petróleo é só prostituição mental... É um socialista marxista esquerdista revolucionário extremista arrumando emprego de caixa de banco pra pagar as contas, ou melhor ainda... aspirando a ser gerente num McDonnald's qualquer. É Sócrates vivendo na época da ditadura e arrumando um emprego de censor pra levantar uns trocados... Quer dizer... não pra todos, claro... Falo daqueles que se preocupam de coração com a questão ambiental, que ainda sem estar por dentro da profundidade dos debates científicos a ponto de conhecer os reais riscos do CO2 em nosso planeta sentem um carinho tão grande por esta rocha errante que gostariam de se dedicar ao máximo a sua preservação. É o domínio do dinheiro sobre o indivíduo, ou no final das contas é só uma fraqueza do indivíduo e pronto? Ele deveria se deixar morrer de fome caso não encontre outra atividade? Está jogando seu tempo no lixo porque em poucos anos só 20% de suas lembranças lhe trarão orgulho? Nenhuma delas sendo lembranças profissionais?

É possível pensar que "é um trabalho que precisa ser feito", afinal... Pois a sociedade precisa continuar funcionando até que outra saída para a questão energética seja desenvolvida. Parar a corrente sangüina negra do mundo moderno instauraria o caos em toda parte e impediria a continuidade das instituições que estão trabalhando para desenvolver alternativas salvadoras ao nosso paradigma existencial. Mas... e daí? Existem tantos acefálicos por aí que pegariam este trampo assim de bom grado, sem pensar, olhando só as verdinhas que vão ao bolso... Precisa ser ele? Tudo bem, dizer que é um desperdício de potencial pode lá ser pretensão demais... Mas não podemos então dizer, no mínimo, que é um baita desperdício de boa vontade? Ele vai se deprimir novamente. Vai se arrepender. Vai olhar os que estão metidos em atividades que lhe movem o coração e vai sentir inveja. Vai se sentir um ninguém e depois um pouco menos. Mas nenhuma idéia lhe ocorre. Para onde ir, agora? Com quem falar, o que fazer?

Sua auto-imagem está borrada, porque ele entregou o pincel ao mundo e deixou que ela fosse desenhada por milhares de mãos alheias e indiferentes. E em momentos de revolta ele tomava o pincel de volta em mãos, querendo retocar aqui e ali. Instaurou-se a briga entre todos os pretensos artistas e o único autor legítimo. Não importa quem vai ganhar; só sei que a essas alturas a tela está uma verdadeira porcaria.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Ora, não me venha com choros!

É tão difícil pra você entender por que é que eu me afastei de você? Seja mais positiva com sua vida! Sua constante insistência em que o mundo é uma droga vai acabar fazendo com que essa seja a única verdade ao seu redor. Pensar em você faz com que eu me sinta mal comigo. Não tome isso como algo pessoal. Isso não te faz pior. Não é você, foi a história com a gente. Me senti desprezado. Me senti vazio. E você me traz essas sensações de volta. Vai ficar triste com meus sumiços ou se sentir culpada pelas minhas dores, mas não deveria. Deveria se sentir em paz com tudo isso, eventualmente me mandar à merda se eu a amolasse demais (coisa que não faço, eu sei), e seguir em frente. Depois, se concentrar ao máximo em dar felicidade aos outros. Felicidade, não consolo! É tão diferente... Muitas vezes é exatamente o oposto... Eu deveria ter desconfiado antes que alguém que acredita tão piamente na infalibilidade da ética cristã acabaria se apegando numa vida que negocia consolo e piedade no lugar de sorrisos e lições. É fácil alimentar a idéia de que o mundo todo está errado e de que você está sendo injustiçada por todas as circunstâncias do acaso e pelas fraquezas alheias. Não olhe isso por essa ótica não... Perceba o que estou fazendo... Eu poderia me dedicar aqui a tentativas de te humilhar e tudo mais, se justa ou injustamente pouco importa... Antes disso, prefiro te convidar a sorrir... Descubra sorrisos no mundo e em você, e confie que o mundo é bom. Eu sumi só por causa disso... Resolvi explorar os lugares e pessoas em que há sorrisos e vontade de sorrir, ao invés de choro por incontornáveis tragédias inventadas. Adeus.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Até quando?!


Até quando?! Ele não vai perceber não? Ele odeia esses estudos todos, e não faz absolutamente nada prazeroso com eles! Foi-se aquela infância de sonhos em que grandes feitos pareciam alcançáveis e a briga contra os números era o caminho mais óbvio. Hoje tudo tem esse gosto de mórbido, de morto, de burro. No trabalho... Ele vai ao trabalho todo dia, vê as mesmas pessoas. A cada dia que passa, elas parecem a ele mais e mais vazias, e ele se sente mal por esse julgamento negativo, mas também mal por estar ali no meio. Saia! Saia logo dessa vida que te dilui. Há tantas coisas que te deixam pra baixo... Não seja idiota: fuja delas! Procure algo pra fazer... Não importa que seja algo muito diferente da tua faculdade. Assuma para si mesmo que seus sonhos de infância já era e não chore por isso: arranje sonhos novos, sonhos viáveis! Cinco anos estudando? Tá, sejamos otimistas e digamos que você viva 90 anos... Beleza, agora vamos lembrar que até os 15 anos, pelo menos, a vida é uma experiência sobre a qual não temos toda a autoridade... Então dos 90 iniciais restam 75. E em 75 anos, 5 anos representam 6,66%! Quase 7% da tua vida no lixo... E olha que estamos falando dos anos mais ativos hein! Se levarmos isso em conta, vai ser possível concluir que estamos falando talvez de 10, 15, 20% do que realmente importa... Faça algo; não deixe sua mente morrer tão antes que seu corpo...

Dupla dinâmica

Ótimo, ótimo! Gates e Slash no mesmo palco!


Com quem mais o Slash deveria tocar?


- Barack Obama e Hillary? A Clinton?


- Steve Jobs?


- Bush?


- Bin Laden?


- Yasser Arafat? (pô, sacanagem...)




It's time to work

Alright kids, I gotta get to work. If I don't input those numbers... it doesn't make much of a difference.

Chandler Bing


Detalhes

- Cara, você é muito engraçado! Se eu soubesse que você é tão engraçado assim, não teria bebido tanto antes de te conhecer!
- Mulher! Não quero deixar minha modéstia de lado ou elogiar demais tuas bajulações, mas juro que foi o maior elogio que já recebi!
- Rs, mas é verdade... Caraca meu, tô rindo muito aqui... Mas e aí, o que cê tá fazendo hein moço?
- Tava terminando de ler um livro do Woody Allen que comprei na volta do cinema, pra salvar o dia já que o filme foi uma porcaria.
- Olha só! Que culto! Pra casar, hein!
- Está sendo irônica ou isso é uma cantada?
- É uma cantada, ué!
- Não se deve cantar um homem que se conhece há tão pouco tempo assim usando a palavra "casar", não pega bem para uma mulher.
- Tô brincando, tô brincando claro né! Você leva tudo muito a sério!
- Nem tudo. Não tivesse você desmentido a brincadeira, o próximo passo seria eu tentar te convencer a colocar nomes estranhos em nossos filhos.
- Você quer ter filhos?
- Agora? Tenho que terminar de responder uns e-mails aqui, depois a gente vê isso...

O Woody Allen é o máximo


FRED
Você fala em assassinato como se fosse a última das alternativas. Para uma mente mais criativa como a minha, é... uma alternativa a mais.


JIM
Essa é a diferença entre nós, Fred. Você tem ilusões de grandeza. Sou mais pé no chão. Não recebo informações de raios vindos do Empire State Building nem de uma espaçonave flutuando no ar.


FRED
Isso pode ser resolvido. Conheço um neurocirurgião que pode instalar uma antena parabólica.


JIM
Eu professo a ética judaico-cristã.


FRED
Então você recebe ordens de um cartel?
De "Bloqueio Criativo", em Woody Allen - Adultérios, pela L&PM Pocket...

Os centros-móveis do universo

Ninguém ali estava preocupado com a causa maior... Quase cem pessoas reunidas num grande evento e a única coisa que interessava a cada um deles era a auto-promoção. "O que vão achar do meu trabalho?", "vou agradar?", e coisas assim. Nesse curso dos fatos, uma fração signficativa dos presentes acaba adotando, na verdade, a versão fraca dessa postura... "tomara que não me odeiem", "espero que eu não cometa nenhuma gafe!". São gafanhotos porcos vivendo às custas de migalhas. Não deveria ser assim... Deveriam estar reunidos pelas discussões em torno de um objetivo comum... Não passam de crianças, moleques... Será que a ciência toda progrediu assim? Ou este é só um grupo vergonhoso que não vai a lugar nenhum... Eu particularmente fico sempre impressionado com essas coisas que não parecem funcionar da forma mais adequada possível e, no entanto, geram resultados... Porque ninguém lá conversava sobre os impactos das descobertas apresentadas... Ninguém falava abertamente sobre dúvidas que poderiam minar a qualidade de resultados mostrados - o que seria uma indelicadeza sem tamanho, porque o efeito maior seria de desmoralizar o apresentador, e não o de avançar as discussões...

Eu não estou contente, isso é patente, não é? Fico em dúvida sobre o quão lícito é esse meu desânimo - realmente meu trabalho não é dos mais estimulantes ou eu apenas não gosto dele e pronto? Isso dá margem a uma tese... talvez nada realmente, por aí, faça muito sentido mesmo... Mas quando as pessoas gostam de uma coisa e continuam a trabalhar nela, cegamente, simplesmente não percebem a pequeneza de tudo em que estão envolvidas e, dessa ignorância, surge a continuidade que vai pouco a pouco erodindo imperfeições e permitindo o emergir de um trabalho completo. Nesse sentido, a ignorância individual é fundamental para o progresso do conhecimento coletivo.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Mundo otimizado?


Sabe quando você tem muito trabalho pra fazer e começa a perceber que pode fazer o trabalho de uma semana em dois dias, se fizer a coisa direito, e isso economizando recursos, gastando menos material, etc? Pois bem... expanda o problema a um nível maior e pense na pergunta: o mundo está otimizado? Claro que não! Diante de sérios problemas como o aquecimento global, a extinsão de espécies animais, o esgotamento de recursos naturais, e etc., ao olharmos para a outra ponta do problema - nós mesmos - só podemos concluir que o mundo está muito longe de ser otimizado. Há inúmeros congressos científicos por aí. Tá, eles colaboram para o progresso da ciência... Mas a que velocidade? E a que preço? E é tudo necessário para o progresso da ciência? No fundo os congressos científicos, em ao menos 70% dos casos (ou mais, até...), dizem respeito a profissionais da ciência (mas que, contudo, eu não ousaria chamar de "cientistas") desesperados para viajar para lugares longe da monótona claustrofobia caseira, e com tudo pago. Este é o principal motor dos congressos científicos ao redor do mundo. O progresso científico é secundário.


Tá, é um processo de mutualismo, então? Essa seria uma ótima defesa! Que mal há em deixar uns velhotes mal-humorados com papo de nerd viajarem por aí às custas de dinheiro público de toda espécie, se em troca eles contribuem para o avanço da ciência que em breve será capaz de resolver os grandes problemas da humanidade? Hein? Hein? Mal nenhum, se esta segunda parte da questão for verdadeira. E este é meu argumento: digo que não é. A ciência poderia continuar progredindo sem tantos congressos, ainda mais na era da internet. Ou então só os congressos em que eu vou é que são pouco produtivos mesmo. Ou estou mal-humorado. Mas tá aí a crítica. Não que eu espere que alguém leia. Mas um dia eu serei mais prolixo com estas idéias, a ponto de expandí-las ao tamanho de um paper, e aí publico tudo num journal qualquer e acabo indo pra um congresso eu mesmo, só pra defender o quão inúteis são os congressos.


E caio nesse paradoxo: se minha argumentação for excelente e completamente correta, então ainda que eu faça uma ótima apresentação, os congressos continuarão acontecendo, pois ninguém lá vai prestar atenção no que eu tenho a dizer. Mas caso eu seja ouvido e decidam por diminuir o número de congressos no mundo, isso significa que eles funcionam como difusores de informação e promotores de ações... o que mina as bases de meus argumentos...

Biografia n. 87.323

Nasceu em Ulianópolis.

Aos 3 anos, os pais mudaram-se para Paudalho.

Aos 5 anos, os pais voltaram para buscá-lo.

Aos 6 anos viu uma televisão e se assustou.

Aos 7 anos atropelou um boi quando soltou o freio de mão do fusca do pai.

Aos 10 anos tinha aprendido a ler, lia tudo o que encontrava.

Aos 12 anos foi sozinho para Rio Rufino, morar com uns tios. Os pais tinham morrido de doença misteriosa.

Aos 18 anos decidiu fugir pra cidade grande. Ainda esperamos notícias...

Ele tem que ouvir!

Meu amigo Tunico tem que ouvir umas boas... Está prestes a fazer besteira, de novo! Do tipo de enrolação metafísica que destorce os entrelaces da vida impedindo a devida continuidade do fluxo plasmático que nos move adiante... É, é isso mesmo: ele tá quase a fim da mina... Acha legal essa de ficar de papinho, se divertindo, conhecendo... Mas o Pelé, um dos camaradas mais sábios da turma dos velhos amigos, já andou avisando várias vezes: não seja burro! Ninguém aqui quer deprimir os outros não... Você pode acreditar no amor... Mas daí a querer ele pra você, é um pouco de egoísmo demais, não acha? Você também pode acreditar que o ebola existe, e ainda assim sabe que é melhor deixá-lo em paz lá em algum canto... Também sabe que a Xuxa existe, e que ela é uma coisa boa, mas se você for atrás dela, só vai ter problemas... Assim é com o amor... Existe, é bom... mas se você for atrás, e der muita trela, vai se estrepar.

Ser extrovertido de verdade?

Vou eu falar mesmo o que penso, o que sinto? Vou nada! Vou inventar impressões bizarras, pra chocar mesmo, e pra ter certeza de que pensarão qualquer oposto daquilo que sou, qualquer coisa que não tenha a ver mesmo... Pois de que adiantaria a transparência completa? No final ela só colabora para sublinhar o quão solitário o mundo te deixa pois ao te conhecerem por completo são capazes de virar as costas ainda mais facilmente do que antes... Quando te conhecem por completo, então já acabou, então não há nada mais que conhecer... Gênio é o filósofo que descobriu que o prazer é um trânsito, e não um estado estático... Pois é assim que as pessoas se conectam... Não importa qual o mosaico de qualidades e defeitos que compõe uma pessoa... Ela só será atraente a outra no processo de conhecer, de exploração... Nunca após o esgotamento dessas mostras principais. Então, num esforço constante para sempre parecer o que não sou, sou sempre novidade deixando escapar, vez ou outra, o que realmente sou... E tenho mais desses momentos prazerosos em que as pessoas se surpreendem com minhas verdades. Quanto às minhas mentiras, por vezes atraem e por vezes repelem... Mas eu não ligo. Uso isso para explorar aqueles em volta e conhecer melhor seus gostos e desgostos. Quando se afastam... paciência. Um dia voltam. E se não voltarem... E daí? Que eternidade vale a pena, num universo com tantos universos distintos por experimentar?

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Lá nas moleculazinhas


Imagine dois computadores iguaizinhos. Mesmo modelo, memória RAM, tamanho de HD, processador... Tudo igual. Até o monitor, as cores, o tipo de teclado... Tudo igualzinho. Certo. Só que em um deles você instalou o Lynux e, no outro, bem... o windows mesmo. Um deles só tem vídeos *.mpg e *.avi arquivados. O outro tá quase lotado de MP3 e programas pra editar músicas digitalizadas. Aí você desliga os computadores e fica olhando pra eles... Qual a diferença entre os dois, agora?! Até onde dá pra observar, sem ter lá muito trabalho, todas as diferenças entre eles sumiram. A não ser que, se fosse fácil fazer isso, você pudesse confirmar que a organização magnética e eletrônica no disco rígido das duas máquinas é diferente. É isso o que mudou. Assim, embora aparentemente sejam as mesmas máquinas, indistintamente, por conta destas diferenças nanoscópicas trata-se de coisas completamente diferentes, quando ativadas.

Beleza. Daí outro dia eu estava lendo o Society, Culture and Personality, do Piritim Sorokin. Aliás, é a aquisição mais baratinha da minha biblioteca... o volume de mais de 700 páginas, tamanho grande e capa dura, era usado na sala da diretora do colégio pra deixar um vasinho mais alto, perto da janela... sem peso na consciência, sumi com o livro assim que me formei, já que eu estava sumindo do colégio também... Então... Lá pelas tantas o cara vai discutindo o nível "superorgânico" da organização do mundo... Quando um cara qualquer é nomeado rei num povoado sei lá aonde, por exemplo, nenhuma mudança no mundo físico acontece (argumenta-se), porém a estrutura da sociedade, o comportamento das pessoas, altera-se em função desta nomeação...

Tá, eu também acho que fazer paralelos entre computadores e pessoas é algo nojento, talvez até seja do agrado de Steven Pinker, mas ele já é agradado demais por aí por todos os méritos de seus livros, não precisa mais dessa esmolinha... Somos muito mais complexos que computadores, a começar porque o processamento de informações na nossa cabeça não acontece segundo uma fila enorme para passagem por um único, ou uns poucos, postos de processamento. É tudo simultâneo. A divisão de trabalho é enorme. Sei lá quem é disco rígido, quem é processador... E não é só que eu não sei identificá-los, é tudo mais ou menos a mesma coisa... Depois, estamos em constante processo de auto-programação, ao passo que só agora os programas em computadores artificiais começam a aprender a se reprogramar, e ainda assim só de uma forma absurdamente superficial...

Mas isso não é razão para aceitar a colocação de Sorokin de que fatos políticos que provocam mudanças no comportamento da sociedade pertencem apenas a algum místico "superorgânico" e não envolvem mudanças no mundo físico. O fluxo de informações na sociedade diz respeito basicamente a mudanças nanoscópicas nas estruturas dos cérebros que estão por aí.


Quando um ator fica famoso, por exemplo, o que acontece que a informação a respeito da existência dele, e mais uma série de informações paralelas, torna-se difundida por várias cabeças por aí... É como uma epidemia. É a idéia dos memes... Não há como conciliar a idéia dos memes com a idéia do superorgânico como algo "não físico, não biológico". E, cá entre nós, os memes são muito mais legais.

Mais uma dentre tantas!

O Natiathore marinubuis habitou as águas do Pacífico setentrional ainda na primeira metade do período velhozóico superior. Da fussa à ponta da cauda tinha lá seus 2,37 metros, em média. Incrivelmente, apesar de todo esse tamanho de tubarão, alimentava-se de algas e plantas. E como os peixinhos pequenos de aquário, tinha essa mania de nadar em cardumes. Um longo estudo de reconstrução da estrutura interna de seu crânio utilizando computação gráfica e interpolação tri-dimensional concluiu que o aparato cognitivo-motor do marinubuis apresenta pelo menos 98% de correlação com a estrutura cefálica de peixes modernos que vivem em cardumes, e apenas 85% de correlação com aqueles de comportamento errante. Não se sabe nada sobre o processo que os levou à extinsão. Falta de aliementos, explosão demográfica seguida de falência de recursos biomáticos de manutenção, crise imobiliária ou queda do dólar. O fato é que hoje eles não estão mais aí. Nos abandonaram, pra sempre. Viviam juntos. Sumiram juntos.

Eu deixo...

Não é que ela era bonita pra caramba?! Eu tava no cursinho de uns amigos meus, e ela passou lá na secretaria. Tinha umas papeladas pra ver, sei lá eu. Eu fiquei olhando... Dessas que tu olha e fala logo "num é pra mim não, puta merda!". Pior que a danada era bem arrumada sabe, enfeites, cabelo ajeitado, roupa escolhida com cuidado... Homem fala que é frescura, mas dá um tesão da porra ver uma mulher bem produzida, especialmente se ela já era potável sem badulaque nenhum.

Ela devia ser importante, sabe... Sentou lá nas mesinhas da lanchonete e tirou um desses telefones celulares novos que parecem computador de Jornada nas Estrelas ou sei lá, com uma tela grande e um tecladinho estranho. Ou ela era importante ou riquinha, fresca e fútil. Mas, bonita daquele jeito, não ousei botar defeito não... Era importante mesmo. Eu num aguentei não. Fui lá e sentei perto dela. Tirei meu caderninho de folhas rasgadas e minha caneta Bic toda mordida do bolso, e comecei a escrever... Escrevia e fazia caras de conclusões, de interrogação... Até que ela reparou em mim e eu lá fingindo estar mergulhado naquelas pequenas páginas velhas... Quando ela tentava voltar a se concentrar no seu brinquedinho digital era hora certa pra falar alguma coisa...

- Puxa... o seu caderninho é bem mais legal que o meu, hein?!, falei em tom de caipirismo simpático

- É mesmo, mas pelo menos você nunca vai ter problema de bateria, né?

- Ah é, isso é verdade! A bateria do meu caderninho duuuura um tempão que eu nem sei! Mas ó... se você abrir algum joguinho aí só pra fazer inveja, vou ficar chateado, viu!

Pronto. Sorrisos e olhares. Éramos recém-amigos. Conversamos umas duas horas. Viagens, livros, lugares, piadas, músicas. E ela falou sobre o namorado. E ela falava olhando para meu rosto. Para meus olhos, para minha boca. E eu fazia o mesmo. E éramos pessoas cheias de princípios, éticas e corretas, exemplares. Nos anunciávamos para ter a certeza de que merecíamos um ao outro. E eu contei detalhes de meus falecidos amores eternos. E foi assim que juntamos material suficiente para termos certeza que éramos gente de bem, pessoas íntegras que querem algo sério da vida. Era a burocracia que precisávamos para justificar aos nossos inconscientes chatos e impertinentes a viabilidade de uma breve aventura...

Das razões...

Escrevo aqui porque preciso vomitar palavras sobre coisas que vejo, coisas que penso, e não posso deixar que elas se preocupem com essa idiota coerência temporal... Meu presente não é coerente com meu passado quando se pensa em um caminho único... Meu presente não é coerente nem mesmo com meu futuro... Como todas as almas que sonham, sou muitas coisas a cada instante, vários eus em luta ou em síntese de paixão, sabe-se lá!

Escrevo aqui porque quero falar dos outros sem pudor... Sem pudor nenhum das pessoas que não enxergam o próprio nanismo, que não percebem os temperos de hipocrisia que lhes torna a vida palatável (mas não por isso a mais saudável de todas...)

Escrevo aqui pra imaginar qualquer besteira.... pra não fazer sentido de uma linha pra outra... Escrevo aqui pra encher de lixo essa rede de pensamentos expostos... Escrevo aqui pra deixar que o mundo saiba de meus pensamentos antes de mim.... Porque se eu souber deles primeiro... e daí?! O que farei com eles?! Não me interessam quando prontos... Gosto de pensar como quem gosta de pintar mas não guarda quadros em casa.... como o músico que passa boa parte do dia em silêncio... gosto de minha mente fervendo, fervendo tanto quanto possível, e por isso mesmo não vou me dar ao trabalho de organizar esses pensamentos em algo que interesse ao resto do mundo porque isso significaria domá-los... e já estão acostumados a ser livres... Algo de útil que apareça, que seja fruto do acaso, e não de nenhum interesse dirigido. Mais legal quando as compatibilidades surgem por já estarem lá...