Ele só queria ir para o seu recanto de solidão. O seu pequeno reinado da eterna bagunça, com coisas jogadas pelos cantos, livros desarrumados, papéis cheios de notas ignoradas. Queria se sentir leve, calmo, e quem não gosta de se sentir assim? Mas não podia esconder, ao menos de si mesmo, a raiva que tinha da ignorância da mãe e da tia, manifestas naquela discussão à mesa. E, em seu quarto, aquele pequeno reinado particular, a irmã ocupava o computador, deixando-o longe da solidão de si.
O pai ligou. Saudades? Não... O pai dava conselhos em sua vida, mas e daí? Sentia é raiva, raiva mesmo. Que sabe ele, afinal, para sair assim aconselhando a esmo conselhos genéricos, desprovidos de qualquer detalhe? Nunca quis tanto ficar sozinho, e ainda assim a solidão é sempre temível. Nossos sonhos e nossa auto-consciência criam terremotos cataclísmicos quando se descobrem em discordância.
E as saudades e as carências, como organizá-las? As bagunças dos livros e revistar jogados, CD's guardados em caixinhas erradas, essas eram mais compreensíveis, muito mais digeríveis: ele sabia como contorná-las, e deixar tudo assim era apenas uma questão de escolha, de perguiça. Mas quanto à bagunça de sentimentos era o oposto. Havia o desespero de pôr tudo no lugar, e não se tinha a menor idéia de como fazê-lo. Ele lembrou daquele cabelo deslizando na ponta de seus dedos enquanto via aquele olhar adormecer. Lembrou do cheiro dela. Da voz dela. Mas os fatos se atropelaram de tal maneira...
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