quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
Lá nas moleculazinhas
Imagine dois computadores iguaizinhos. Mesmo modelo, memória RAM, tamanho de HD, processador... Tudo igual. Até o monitor, as cores, o tipo de teclado... Tudo igualzinho. Certo. Só que em um deles você instalou o Lynux e, no outro, bem... o windows mesmo. Um deles só tem vídeos *.mpg e *.avi arquivados. O outro tá quase lotado de MP3 e programas pra editar músicas digitalizadas. Aí você desliga os computadores e fica olhando pra eles... Qual a diferença entre os dois, agora?! Até onde dá pra observar, sem ter lá muito trabalho, todas as diferenças entre eles sumiram. A não ser que, se fosse fácil fazer isso, você pudesse confirmar que a organização magnética e eletrônica no disco rígido das duas máquinas é diferente. É isso o que mudou. Assim, embora aparentemente sejam as mesmas máquinas, indistintamente, por conta destas diferenças nanoscópicas trata-se de coisas completamente diferentes, quando ativadas.
Beleza. Daí outro dia eu estava lendo o Society, Culture and Personality, do Piritim Sorokin. Aliás, é a aquisição mais baratinha da minha biblioteca... o volume de mais de 700 páginas, tamanho grande e capa dura, era usado na sala da diretora do colégio pra deixar um vasinho mais alto, perto da janela... sem peso na consciência, sumi com o livro assim que me formei, já que eu estava sumindo do colégio também... Então... Lá pelas tantas o cara vai discutindo o nível "superorgânico" da organização do mundo... Quando um cara qualquer é nomeado rei num povoado sei lá aonde, por exemplo, nenhuma mudança no mundo físico acontece (argumenta-se), porém a estrutura da sociedade, o comportamento das pessoas, altera-se em função desta nomeação...
Tá, eu também acho que fazer paralelos entre computadores e pessoas é algo nojento, talvez até seja do agrado de Steven Pinker, mas ele já é agradado demais por aí por todos os méritos de seus livros, não precisa mais dessa esmolinha... Somos muito mais complexos que computadores, a começar porque o processamento de informações na nossa cabeça não acontece segundo uma fila enorme para passagem por um único, ou uns poucos, postos de processamento. É tudo simultâneo. A divisão de trabalho é enorme. Sei lá quem é disco rígido, quem é processador... E não é só que eu não sei identificá-los, é tudo mais ou menos a mesma coisa... Depois, estamos em constante processo de auto-programação, ao passo que só agora os programas em computadores artificiais começam a aprender a se reprogramar, e ainda assim só de uma forma absurdamente superficial...
Mas isso não é razão para aceitar a colocação de Sorokin de que fatos políticos que provocam mudanças no comportamento da sociedade pertencem apenas a algum místico "superorgânico" e não envolvem mudanças no mundo físico. O fluxo de informações na sociedade diz respeito basicamente a mudanças nanoscópicas nas estruturas dos cérebros que estão por aí.
Quando um ator fica famoso, por exemplo, o que acontece que a informação a respeito da existência dele, e mais uma série de informações paralelas, torna-se difundida por várias cabeças por aí... É como uma epidemia. É a idéia dos memes... Não há como conciliar a idéia dos memes com a idéia do superorgânico como algo "não físico, não biológico". E, cá entre nós, os memes são muito mais legais.
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