domingo, 8 de julho de 2018

E daí


Só se sabe experimentando.

A mente engana. Conhecer de ouvir falar é conhecer histórias mas é diferente de conhecer as coisas historiadas.

Conhecer não tem palavras. Tem tato, calor, cor e sabor.

Toda opinião possível mora entre amar e odiar.

Eu admito a maior parte do tempo ser alheio às coisas, ou as coisas serem alheias a mim. As coisas e os assuntos. Que mania besta das pessoas essa de inventar uma opinião sobre tudo. Nisso eu opino: acho besta. Deixo o resto do mundo correr em paz e dou atenção às quatro ou cinco coisas que importam na minha vida. O resto não inoportuno e espero que não me deixe em recíproca paz.

Posso até discutir a fome das criancinhas da África, mas depois da sobremesa, por favor. E por que é errado?

É errado e frio deleitar-se num farto churrasco e guloseimosas sobremesas enquanto se pensa na fome mundial, mas não o é nos dias comuns enquanto se pensa em outra coisa? A indiferença é uma falha moral sem crise de consciência, e como paz de consciência é algo muito difícil de se conseguir por outros meios, a indiferença se infiltra em todos os poros sociais como uma anestesia se infiltra nas veias do nervo canceroso.

E é assim que vi o mundo quando saí pra andar de bicicleta à noite. E não achei errado e nem certo. Não voltei pra casa nem mais triste nem menos feliz. Voltei só mais cansado de pedalar, tomei um gole fresco d'água. Só tinha visto que o mundo é assim. Só, tinha visto que o mundo é assim.

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