sábado, 21 de julho de 2018

Palavrões


Estou confuso. Minha professora ficou horrorizada quando falei um palavrão em sala de aula. Mas era uma aula sobre comunicação, sobre linguagem, e eu usei o palavrão explicitamente como um exemplo de como uma situação se passaria na prática, no "mundo real".

"Adoniran, ninguém fala assim!"

Falam, as pessoas falam sim!

Minha professora é jovem. Vem de uma cidade pequena. Será que isso é um fator? Será que em seu recorte do mundo realmente o uso de palavrões é tão negligenciado a ponto de passar como algo absolutamente inaceitável? Eu achei que não existissem mais pessoas assim. Acho curioso que os palavrões sejam vistos por uns como um sinal de má educação quando, na prática, é frequentemente um sinônimo de amizade mais intensa.

Imagine um homem atendendo o telefone. O Armando. E duas respostas possíveis:

Resposta 1: Olá Armando. Como vai? Estou ligando para saber como você está.

Resposta 2: Fala aê seu merda? Como é que estão as coisas com você, minha putinha?

Qual dos dois interlocutores parece ser mais amigo do Armando? É sem sombra de dúvidas o interlocutor da resposta 2, e se para você essa resposta pareceu apenas ofensiva, sinto informar mas seu círculo de amizades é muito careta ou ninguém tem por você uma amizade muito profunda. A ofensa-fake entre amigos é uma espécie de extensão das brincadeiras físicas que se verificam entre todos os mamíferos. Se observarmos como pequenos leões, ou macacos, ou humanos brincam, frequentemente essas brincadeiras envolvem atitudes que parecem uma luta simulada. Assim é também com as palavras. São palavras ofensivas, sim, mas usadas de um modo que evidencia a brincadeira e a boa intenção e, assim, reforça a amizade ao invés de enfraquecê-la.

Nossa linguagem é complicada pra caralho, não tenha dúvidas.

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