quinta-feira, 5 de julho de 2018

Finalidades

Para que serve a poesia? Para que serve um quadro? Para que serve uma roupa mais bonita? Para que serve uma frase bem escrita? Uma piada?

A utilidade tem esse caráter transitório de conectar finalidades. E, sendo transitórias, as finalidades assim apresentadas não são finais. É assim, por definição lógica, que concluímos que o grande objetivo, aquele realmente final, aquilo que merece por completo a descrição de finalidade, não pode servir para nada. A inutilidade é a grande finalidade ou, dito de outro modo, as verdadeiras finalidades são, necessariamente, inúteis. O problema aqui é o sentido negativo que nossa sociedade altamente instrumentalizada associa à palavra inútil. A inutilidade da verdadeira finalidade não é inútil no mal sentido da palavra, no sentido de algo desprezível ou de qualidade inferior. É inútil no sentido técnico de não depender de uma utilidade posterior para justificá-la. Apóia-se não na alegação de emprego futuro mas sim em algo mais puro: a vontade presente de sua existência. Esse é o conector final. Alguém que diga "porque eu quis", "porque eu gosto".

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