sexta-feira, 13 de julho de 2018

Mudar a história


"Se encontrássemos vida em Marte, seria uma completa revolução para a humanidade, isso mudaria a história para sempre!"
Já houve um momento em minha vida em que eu tomaria essa frase como completamente verdadeira. Hoje acho que ela é consideravelmente egocêntrica, mas olho com ceticismo meu próprio desprezo. Não consigo decidir. Explico.

Por um lado, vejo hoje a humanidade como um conjunto enorme de idiotas, de imbecis, de retardados desconectados da história, da produção intelectual, dos pensamentos, do fluxo de criatividade que produziu as maravilhas da humanidade. Não me entenda mal. Compreendo que não é, na enorme maioria das vezes, culpa dessas próprias pessoas. Mas é assim que o mundo é. Imersos em nossas próprias atividades, estamos falhando na tarefa de instruir a próxima geração. E isso vem acontecendo há tempo demais. Assim, passando do caso geral ao problema particular que o manifesta, e se a humanidade descobrisse, por fim, vestígios de vida em marte? O que isso mudaria para o empresário que quer mais lucro para comprar um relógio de quinze mil ao invés do ultrapassado modelo de dez mil? O que mudaria na vida das pessoas que querem ter um som mais forte no carro e nada mais?

Tenha o cuidado de observar que não estou mencionando diretamente aqueles que normalmente são tidos como "os ignorantes". Os pobres coitados sem estudos e sem recursos. Ainda que para fins do presente raciocínio eles pudessem ser também englobados, creio que o extremismo da exclusão que sofrem os isenta de responsabilidades. Trato, isto sim, de pessoas com algum recurso a mais na vida, porque a estas a escolha é possível. Ver um filme idiota ou se aprender alguma coisa nova? Deveria existir um balanço. Um equilíbrio entre o ludismo da vida e o crescimento espiritual. Não, não há. Eu sei que grandes descobertas, como a de eventuais vestígios de vida em Marte, passarão deliberadamente ao largo para uma gigantesca parcela da humanidade.

Por outro lado, admito que possa ser um extremismo meu. E se, no fundo, é assim que é e pronto? O quão difundido precisa ser o progresso intelectual? Chega-se ao futuro inundando o rio do Tempo mas também percorrendo apenas um discreto fio d'água num canto esquecido. É a ideia de nicho ecológico, ainda que distorcida a um outro contexto. Talvez nem seja assim tão importante que o mundo todo compartilhe das grandezas da humanidade. Basta um estado mínimo de não-bestialidade em que se evite a destruição de nossas grandezas pela massa de estúpidos. (Não estamos, também, a salvo dessa última hipótese, vide destruição massiva de arquitetura e arte nas guerras, seja na Segunda Guerra, seja com o que ocorreu na Síria.)

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