segunda-feira, 30 de julho de 2018

Pernas


Minha vida está enferrujando? Meus sentimentos estão enferrujando? Minha poesia? Ah, menina... Não sabe o que fala, mal imagina... Flertamos por aí, nesses acasos deliciosos, cheios de diálogos comportados e olhares indecentes. Eu quero você, e sabe disso. Quer a mim também. Beijo? Mais que beijo, talvez... Na cama, misturados. Em tardes no sofá, em passeios por aí... Desejo... Mas no fundo sabemos mais do teor desses impulsos do que gostaríamos. O que às vezes é orgulho, esse autoconhecimento que temos de nossos instantes e da vida como um todo. Às vezes é também martírio, é odioso e repulsivo. Queríamos tanto não ter laço nenhum com o resto do mundo e nos darmos a esta sede áspera que às vezes até machuca os impulsos, tão incontida que é... Não, não estou enferrujando. Estou investigando essa estranha criação da civilização... Estou experimentando essa coisa que é ter um certo auto-controle. Estou inventando meus segredos proibidos para me tornar um cidadão bom aos olhos até de Dostoiévski.

Você sabe dos meus desejos porque os instintos vazam informações que não deviam, mas no fundo é tudo ainda um segredo. Nem ideia faz das coisas que penso ao ver a bela foto de suas pernas... O volume bem contornado que você deixa em seus vestidos, o contorno confortável de seus lábios nas fotos... Gosto desses desejos impuros, mas tenho-os para mim apenas.

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