quarta-feira, 22 de abril de 2015

Matéria prima

Um dos maiores escritores de todos os tempos acabou desconhecido. Porque não escreveu nada. Não escreveu nada porque teve uma vida calma demais, tranquila demais, e isolada demais. Mas a sua mente era a mais imaginativa. Sua memória, a mais invejável. Sua capacidade de criar diferentes formas de narrativa, das mais impressionantes. Essas habilidades, contudo, atrofiaram. Porque eram usadas, dia após dia, para descrever o nascer e o pôr do sol. Fez mais de mil poemas e dissertações sobre o assunto. Descrevia o voo dos pássaros e a mudança das estações. Foram centenas de ensaios. Romances. Pensamentos sobre o tema. E a vida dos poucos parentes que viu, naquele lugar rústico, no meio do nada. Não estudou. Não conheceu a história da filosofia. A aventura da tecnologia. O drama das guerras. Não frequentou bares. Nunca falou com uma puta. Nunca foi repreendido por um padre. O maior escritor de todos os tempos morreu. Morreu sendo um potencial não realizado. Condição que parece extrema e dramática mas que, para a humanidade, é a norma.

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