sexta-feira, 10 de abril de 2015

Que coisa mais chata

Vou escrever uma história de detetive. Uma morte logo no começo, para dar emoção e suspense. Não, muito manjado. Vamos ver. Um romance. Isso. Um romance. Pessoas apaixonadas. Cenas descrevendo olhares e mãos se tocando, com uma linguagem cheia de sensibilidade. Não não. Ficção científica! Isso. A Terra está ameaçada. Ou já vivemos em uma outra era, em um outro planeta, com uma tecnologia super inovadora. Ou nossa tecnologia aqui está muito diferente. Ou a humanidade deu errado e vivemos um grande inferno. Não não, deixe-me ver... Um livro filosófico. Desses mais experimentais, mais literários. Afinal, livros policiais, ou de ficção, ou romances... Nada isso é literatura, certo? Paulo Coelho nunca vai soar um Dostoievski, não é? Investigar os profundos do espírito humano. Encher trezentas páginas com frases de efeito. Não não... O que dá dinheiro mesmo é livro de auto-ajuda. Porque a auto-ajuda, para ser mesmo auto, é a única literatura que dá dinheiro a quem a escreveu. Ou, então, eu posso escrever sobre um jovem já não tão jovem, de bom coração e apaixonado pelas letrinhas, que sonha em escrever e só não faz idéia do que escrever. Afe, que coisa mais chata.

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