quarta-feira, 15 de abril de 2015

Mesmo sangue

Você sempre foi de agir imediatamente. E eu ficava num canto, no quarto mais escondido da casa, lendo livros velhos e martelando a máquina de escrever em pensamentos indizíveis. Você queria abrir um negócio. Uma loja. Uma oficina. Uma pastelaria. Qualquer coisa. Não concordava com a idéia de trabalhar para um chefe, ter os horários definidos por regras externas. Ficar jogado no trabalho cumprindo horário. E eu lá, fazendo exercícios do cursinho. Lendo literaturas antigas. Escrevendo reflexões sobre a história da filosofia, sobre a aventura da construção da ciência e coisas assim. Mas temos o mesmo sangue. Somos assim, profundamente diferentes, e inúmeras vezes você me deixou à margem de julgar minha vida um erro. Incompetência para arrumar dinheiro, comprar um carro, comprar uma casa. Diferenças. Mas sei que, ainda que você não confesse, te deixei em dúvida também. Eu fazendo minhas viagens, e você pagando prestações. Eu mergulhdo em minhas paixões e você deixando a guitarra de lado porque havia se tornado um adulto sério cheio de responsabilidades. Somos dois extremos de uma mesma vida.

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