Era quase madrugada. Ou era já madrugada. Nem lembro. Tem semanas já. Ela me contava seu drama.
-Eu tenho meus projetos, minhas ideias, mas não sei direito o que fazer. Estou travada, entende. Não me sinto exatamente segura por onde começar, por onde ir.
E então contei a ela a história do Churchill que li anos e anos atrás numa velha coletânea especial da revista Seleções do Readers's Digest. Uma seleção especial sobre os tempos da Segunda Guerra. O texto contava que uma vez Churchill estava recluso em sua casa tentando se dedicar ao seu hobby pessoal. A pintura. E havia instruído os criados a não permitir a entrada de ninguém. Mas então chegou uma moça que era sua amiga de infância e que tinha muita liberdade com ele, com os criados, e que não se dobrava facilmente a instruções do tipo "ele pediu para não ser incomodado". Infelizmente não me lembro agora o nome da moça e ainda não fiz as devida pesquisas no Google (mas você pode cuidar dessa parte e me informar, fique à vontade). Acontece que a moça entrou no salão em que estava o notável primeiro ministro inglês e o viu estático, pincel na mão, diante de uma tela em branco.
-O que está fazendo?
-Estou pintando.
-Mas a tela está em branco! O que está pintando?
-Uma rosa.
-Mas não tem nada no quadro... por que?
-Estou pensando por onde começar!
E então ela retirou o pincel das mãos do Churchill, fez um único traço sobre a tela, devolveu o pincel àquele atordoado fumador de charutos e lhe explicou:
-Pronto, agora é só continuar.
Eu achei a história fantástica. Pensei em quantas e quantas coisas de nossa vida se reduzem no fundo à essa lição fundamental. A importância de um primeiro passo, qualquer que seja, como muito mais importante do que a consciência precisa do "melhor primeiro passo possível". O movimento sobre a estagnação. A vida em si como o próprio movimento. Contei todas essas histórias à Mari. E ela, fotógrafa, me contando sobre o plano de seu Instagram profissional para o qual não tinha coragem de convidar ninguém. Porque ainda não tinha as fotos certas. Porque ainda tinha dúvidas quanto ao projeto.
Conversamos por mais algumas horas. Depois nos despedimos e fui tomar banho.
Antes de dormir não resisti e conferi novamente o celular. Havia um convite daquele novo Instagram dela e uma nova foto publicada.
Minha querida, uma certeza eu tenho: Churchill estaria com inveja.
domingo, 15 de outubro de 2017
Churchill e o Instagram da Mari
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