sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O escritor que eu fui está morto

Li um texto que escrevi há alguns anos. Confesso, sem modéstia, que gostei do que li. Gostei do humor sutil, da escolha de palavras, do tratamento do tema. Havia um nível suficiente de criatividade e de articulação ali. E quis escrever mais coisas daquele jeito. E não consegui. Descobri que a pessoa que escreveu aquele texto, quem quer que seja, está morta. Soterrado pelo tempo. Não vai escrever nunca mais. Outros escritores vão nascer em mim. O de hoje faz isso aqui: escreve sobre outras épocas e é o que tem para hoje, goste você ou não. Descobri que nossa existência interior é assim, essa onda: uma crista em movimento, com uma inércia própria, indiferente aos nossos desejos. Não vai parar onde desejamos. Vai continuar mudando. O contínuo movimento do nosso espírito. Nossa existência, diante dessa onda, resume-se a escolher, dia após dia, surfar tudo o que ela tem a oferecer ou deixar-se afogar em suas turbulências.

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