Eu não entendo. Meu irmão partiu. Foi um dia só aqui, não tivemos tanto tempo de conversar. Quando ele volta? Eu achei que ele ficaria mais. Mas essa maluquice de confusão no país, ele não conseguia viajar pra cá. Trouxe as coisas dele. Trouxe os livros. Livros e livros e livros. E deixou o carro de volta também. Disse para eu vender mas não deu prazo nenhum. É só isso o que ele tem. Eu não entendo ele. Cinco estantes cheias de livros. A gente tem quase a mesma idade. Eu tenho minha família, minha empresa, minhas filhas. Acho que é por isso que ele fala tanta besteira, é esquerdista, quer o desarmamento. Ele não tem responsabilidades. Fica por aí viajando o mundo. Estudando, estudando, estudando. De que adianta estudar tanto e não fazer nada? Eu perguntei para a mamãe quando ele voltaria. Ela não soube me responder. Dois meses? Dois anos? Nunca?
Eu lembro quando a gente enchia a casa velha lá com os amigos. Ele tocava bateria. A gente falava muita besteira. A gente fazia paródias. De tudo. Com as músicas do Ramones, da Xuxa, o que fosse. O importante era dar risada. A gente podia tocar Van Hallen ou Mamonas Assassinas. Mas a gente ria. Eu sinto falta de rir. Sinto falta de rir daquele jeito. Achei que ele fosse ficar mais um pouco e talvez a gente fosse conversar de novo. Talvez a gente fosse rir um pouco.
As meninas estão grandes já. Eu queria que ele tivesse vindo mais pra cá. Queria que ele tivesse crescido junto com elas. Mas sempre foi difícil viajar. O dinheiro, o tempo. Os trabalhos que ele arrumava longe. Em outras cidades, em outros países. Queria que ele tivesse rido com as minhas filhas como riu comigo quando a gente era mais novo. Quando ele volta?
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