sábado, 30 de junho de 2018

Pai

Eu tenho tantas mágoas que eu não tinha antes. Tantas coisas que me perseguem em meus silêncios que tempos atrás eram vultos distantes e abstratos. Como foi que isso aconteceu? Certas reviravoltas dão-se lentamente, sem estardalhaços, e a gente nem percebe. E a gente nem se protege. Tenho raiva de pessoas que eu deveria amar. E deixo me corroer essa Consciência toda que morre de raiva por eu ter raiva. E como se arruma isso? Eu não sei... Ninguém sabe. Alguém sabe? Alguém me conta? Eu tenho escuros que antes eram claros. E meus silêncios não pensam as mesmas coisas à toa, inocentes. Tantos pensamentos ácidos que ulcerizam minha solidão. Estou mal. As pessoas ficam mal às vezes, é normal, não é? Estou mal...

Meu pai aparece depois de meses distantes, depois de um infinito de tempo sem saber da minha vida, depois de me deixar mergulhado na casa cheia de problemas da qual ele fugiu em busca de conforto. E parece querer saber da minha vida. Da minha vida amorosa, até...

- E o coraçãozinho, como vai?

E o seu, hein pai? Como vai O SEU? Está feliz por viver ao lado de quem não ama, longe dos filhos, e sem a mínima coragem de encarar um segundo divórcio? Está feliz por se entregar à crença de que já é velho e deixar sua vida parar? Está feliz por jogar todos seus sonhos na gaveta, trancá-la e jogar a chave fora? Velho com sessenta e um anos... Conheci tanta gente mais velha que era mais nova... Quero ficar longe do meu pai antes que eu aprenda algo desse mal exemplo. Será que nesse meu mal humor todo já não estou sucumbindo um pouco também?

Será que minha sede de caos tem a ver com tudo isso? Será que meu desespero por fugir de uma rotina previsível, meu amor a qualquer coisa que apareça de última hora e não tenha razão de ser, tenha a ver com essa aversão ao curso normal das coisas? Quem sabe eu não engano a vida, ela pensa que me leva pra lá e eu corro pra cá, às escondidas quase... Quem sabe?

É possível enganar a vida?

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