sexta-feira, 29 de maio de 2015

Dos diários antigos–parte I

Ontem eu fugi do mundo. Fugi para um mundo alternativo onde as coisas eram diferentes. E elas foram sendo diferentes até que eu cansei. O que se faz quando se cansa? Como se reconstrói um mundo? Tentei ser Deus e não consegui. Tentei e aboli minhas solidões. Aboli meus anseios impossíveis. Aboli os próprios impossíveis do mundo. E aí olhei em volta e ninguém sorriu comigo.

A solidão. Tema recorrente, não só para mim mas também para várias outras pessoas curiosas.

A solidão tem várias faces. Falta dos outros. Excesso de si. Mistura destes extremos. Muitas pessoas são sozinhas por terem demais de si mesmas na própria vida, não sobrando espaço às outras. Outras simplesmente estão isoladas. Lhes falta o resto do mundo. Rejeição, isso é horrível, é triste. Compreensível? Quem gosta de estar ao lado da gorda geleienta que baba ao falar? Você a visitaria todas as tardes, levando uns pãezinhos, só para conversar um pouco e saber das novidades (nenhuma novidade, nunca). Hein? É uma crueldade do mundo? Deveriam desconfiar da inexistência de Deus simplesmente pela rejeição que temos pelos feios. Deus existindo, esta foi uma faceta de muito mal gosto. E não apele ao livre-arbítrio coisa nenhuma, pois é um traço comum de todos essa rejeição, não é?

Voltei do meu mundo alternativo imaginário pensando essas coisas. E aqui no mundo de sempre estava tudo sempre igual, sempre na mesma, sempre continuando, e eu não sabendo onde vai dar. Eu nunca sei aonde é que vai dar. Eu crio algumas solidões e depois quero fugir delas. Eu crio algumas alegrias e depois elas me entristecem. Eu mergulho em algumas tristezas e aí olhando seus detalhes, me alegro.

É tudo imprevisível demais. É tudo muito imprevisível. Ou apenas não tenho o controle, algo assim.

Vou me voltar ao mundo lá fora, mais cedo ou mais tarde. Outras pessoas, outras histórias, outros problemas. E minha vida estará bem encaminhada, neste caso. É curioso isso. Quanto mais olhamos para fora, mais parecermos estar bem. Relação curiosa. Meu professor de sociologia falou uma vez que dentro do próprio indivíduo não há nada. O indivíduo que mergulha dentro de si buscando viver seu próprio mundo descobre apenas vazio, e vazio entristece, enlouquece, apodrece e tudo o mais. Curioso. Não faz sentido, no fim das contas. Por que seria interessante, então, olhar pra fora, se lá tudo o que há são pessoas ou também olhando pra fora ou então mergulhadas em si e logo completamente enfadonhas e tristes? Curisoso, muito curioso, não é mesmo?

Por que guardo mais segredos dentro de mim do que gostaria? O que há de problema e o que há de natural no meio disso tudo? Quero saber. Quero entender. Preciso, não é mesmo? Preciso entender tudo isso melhor e é assim que deverá ser.

E meu pai? Como ele irá arrumar a própria vida? E minha irmã, minha pequena irmã, que está casando, meu deus do céu! Minhas sobrinhas, as vi tão pouco neste ano. Meu namoro, onde há tão pouco de mim ultimamente. Quanta coisa pra pensar.

Os e-mails da minha amiga, que eu nunca respondo. Nunca respondo e não sei se eu sei a resposta. Sei que são mais questões na fila. Quando vou pensar nelas? Certas questões não deveriam ir se processando naturalmente, com o correr dos dias, no girar da engrenagem do mundo, e nós gradualmente iríamos ficando mais e mais conscientes da resposta? Ou nisso é o que acreditam os que empurram com a barriga?

Estou com uma certa barriga. Mais bicicleta e menos pizza, 2011 aí vou eu.

Estou com uma certa barriga. Da metafórica. Empurrando o mundo com ela. Qual o equivalente metafórico de mais bicicleta e menos pizza?

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