sábado, 30 de setembro de 2017

Cruzando o Atlântico

Assisti ontem a peça "Cruzando o Atlântico", com texto de Carolina Arksanan. O cartaz mostrava uma senhora ao lado de uma moça e de um rapaz jovens. Com este título pensamos em viagens, na época das navegações ou algo assim. De início é o que a história faz parecer.

Bete é uma senhora de cinquenta e quatro anos e cria sozinha seus dois filhos, Alessandra e Rodrigo. Rodrigo, mais velho, repetiu alguns anos na escola. Mas finalmente tomou jeito. Quanto à irmã, a única coisa que fazia repetir na escola eram os elogios dos professores. Ao entrarem na faculdade, ela estudando egenharia civil e ele estudando jornalismo, conseguem ambos bolsas de estudo para faculdades na Europa. Deixam o Brasil no mesmo voo. E então a mãe se despede e fica aqui, sozinha.

Claro que há o Skype para um oi, mas com todas as novidades da Europa quando é que os filhos tem tempo de estar online? E depois tem o fuso horário, tudo é difícil. Mais e mais Bete se vê em companhia de si mesma. Descobre a vida sem os filhos. E é este novo mundo de solidão, de vazio existencial infinito ao seu redor, recém descoberto, que ela terá que cruzar. É este seu Atlântico.

É uma peça, em resumo, sobre os desafios de redirecionar o ponto focal da vida, e de redirecioná-lo para si mesmo. Passeios, amigas, livros e filmes, diversas coisas às quais ela não tinha tempo e agora tem tempo de sobra mas, nas primeiras vezes em que retoma estas experiências, não sente o prazer que esperava. Onde estão os filhos? Pouco a pouco vai redescobrindo o direito de se sentir feliz por si só e, no processo, abre-se a descobrir pessoas interessantes novamente. Vale a pena assistir.

Nenhum comentário: