sábado, 2 de setembro de 2017

Mortes

Dei aula para ele. Não era meu aluno. Mas era a última aula do curso e substituí o professor previsto. Era muito gente boa. Um cara simpático. Sorridente. Falante. Curioso. Educado. Não se colocava na posição de "cliente mandão". Foi uma boa aula. Saí de lá contente. Contente por colaborar com o futuro das pessoas. Das pessoas boas.

Três dias depois, a notícia: estava morto. Acidente. Li na internet. Não podia acreditar. Acessei o sistema da escola e confirmei o nome. Sobrenome. Era ele.

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Vou vender minha moto. Quase morri. Mas quase... Não quero tentar a sorte de novo. Ela foi do acidente direto para a autorizada. Depois de meses de enrolação, finalmente a notícia: está pronta. Como ali era oficina e concessionária, resolvi ver se eles mesmos comprariam a moto. Compram sim! Mas ofereceram um valor muito baixo... Até compensaria perder um pouco de dinheiro pela praticidade... a moto está em outra cidade. Ao invés de buscá-la, eu poderia já fechar negócio com a moto lá mesmo. Mas... e se a diferença fosse muito grande? Perder um pouco de dinheiro, tudo bem. Muito, não! Resolvi ligar para a oficina aqui ao lado de casa, onde eu sempre levava a moto. Lá vez ou outra eles divulgam uma moto a venda e certamente estão por dentro dos preços. Telefonei.
- Alô? Por gentileza, o Salvatore?
- Faz tempo que você não vem aqui, não é?
- Sim... por que?
- O Salvatore faleceu... tem três meses.
Eu sempre conversava com ele. Tenho a impressão de que ele tinha alguma amizade por mim também. Afinal minha humilde moto de motoboy ficava deslocada ali naquela oficina cheia de gigantes Harley Davidson e BMW's.

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Há alguns anos fui para o Rio de Janeiro. Passei o ano novo lá. Um amigo meu iria viajar com a namorada e me chamou para ir junto. Ficamos no apartamento do tio dele. Conheci a família toda. Gente muito acolhedora, simpática. O filho mais velho, pouco tempo depois, foi estudar na França. Orgulho da família. Hoje, no Facebook, comecei a ler uma mensagem emocionada deste filho. Falava do pai. Imaginei por um instante que fosse alguma mensagem de aniversário, ou de saudade, ou celebrando alguma conquista.. Mas logo entendi. O pai havia falecido. Câncer no estômago. O levou em cerca de um mês depois de descoberta a doença.

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