sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Eu a criei

O Giba, ou Senhor Gilberto, para quem ainda não foi apresentado ao seu jeito amigável e informal, é um italiano lá da escola. Sempre que está em sala de aula sua voz ecoa pelos corredores em um discurso firme, pontuado por risadas leves e contagiantes. Pouco tempo depois que fui trabalhar lá já estávamos amigos. Almoçávamos juntos e, nessas ocasiões, ele me contava de sua vinda ao Brasil, da criação de sua família, de seu primeiro divórcio e outras coisas assim. Ele tinha, sob meu ponto de vista, um grande defeito: era extremamente conservador e havia, portanto, entrado nessa onda recente de falar mal de absolutamente tudo ligado ao governo atual. Mas eu não sou do tipo que faz ou desfaz uma amizade com base em diferenças no discurso político.

Aí ele começou a me contar da filha. Não sua filha, mas a filha de sua mulher.

-Sabe, quando comecei a sair com a Elisângela a menina ainda era pequena. Eu queria que o pai fosse vê-la. Mas sempre tinha alguma coisa. Estava viajando a trabalho. Estava fora com os amigos. Estava cuidando de algum projeto, em alguma reunião. A Elisângela jurava que era tudo desculpa e aí ficava aquela situação né, aquele clima de conversa engasgada. Eu comecei a levá-la para vê-lo mas ela não queria, no fundo ela não queria. E ele também não. Quer dizer, eu acho que ele queria ser um bom pai. Mas não conseguia, não sei porque mas não conseguia. E então eu a criei. Ela me chama de pai. Eu virei o pai dela.

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