quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Grilhões alfabéticos

Tem dias que não se imaginam coisas. Sento para escrever e penso na hora que eu acordei, no que comi, no que vi no supermercado, nos preços. Penso, enfim, em tudo aquilo que não deve pensar quem quer escrever. Onde está o personagem imaginário com uma vida fantástica, vivendo um conflito interessantíssimo, interagindo com pessoas curiosas, suspeitas, inusitadas? Nem ele veio visitar minha imaginação hoje. Tudo o que eu tenho a narrar hoje é extremamente concreto. As três amigas da mesa da frente, a moça da mesa do lado tomando copos e copos de cerveja à espera de alguém que não chega nunca. Meu celular vibrando sobre a mesa enquanto a bateira acaba e as novidades se acumulam. Novidades de WhatsApp... amigos se zoando, memes sobre política, fotos de pornografia barata e piadas idiotas. Aquela mensagem que eu espero mesmo, aquela saudade profunda, essa segue como meus textos, como minha própria mensagem que hesito em escrever: profundo silêncio.

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