quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Pão e chocolate

Passei no mercado. Fazer compras quando se mora sozinho é um desafio. Até porque eu não entendo muito de cozinhar e não tenho grandes pretensões gastronômicas. Então fica muito fácil comprar tranqueiras demais ou errar nas quantidades e deixar coisas estragarem. Ultimamente, essa crise e tal, o dinheiro anda mais curto. Então comprei macarrão, molho, pães, requeijão, queijo e coisas assim. E ao passar pelo caixa não resisti: chocolates! É mais barato comprar chocolates no mercado do que nos restaurantes e padarias. Se bem que, enchendo minha casa de chocolates, eu os devoro quase que em uma mordida só, não duram tantos dias quanto deveriam.

De sacolas na mão e pensando nessas coisas, saí em direção à minha casa e já fui distraindo meus pensamentos com uma barra de Diamante Negro. Estava começando a me xingar mentalmente por não resistir à gula e já ir cedendo aos doces. Assim eu vou continuar engordando! Ainda mais agora que ando super sedentário. Foi no meio desses pensamentos que vi um mendigo, na calçada, que ia me observando bem atentamente enquanto eu comia meus chocolates. De repente senti a luxúria em que eu estava me afogando: comendo sem precisar, comendo o que até me fazia mal, enquanto ali ao lado alguém morria de fome. Olhei-o nos olhos e perguntei:
-Ô amigo, cê tá com fome?
-Porra se tô, vixe!
Não hesitou em ser tão enfático quanto podia. Dei a ele um chocolate e um pão seco ao que ele foi logo agradecendo e me cobrindo de votos de bênção. Segui para casa pensando na profundidade de nossas gulas que nunca olham ao redor.
Na manhã seguinte liguei a TV. Dentre as tantas tragédias de sempre, com o câmbio e com os deputados, uma notícia algo atípica:havia ocorrido um atropelamento no fim da madrugada ali próximo à minha casa. Um carro cheio de jovens bêbados atropelara um mendigo que dormia na calçada. Naquela manhã não consegui comer nada e ainda hoje, ao me lembrar da história, sinto um embrulho incômodo no estômago.

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