sábado, 9 de setembro de 2017

Minha mãe chegou ao WhatsApp

Morar sozinho foi um desafio e uma conquista. Eu lavo as minhas roupas. Eu controlo o estoque de alimentação na geladeira. Eu decido quando é hora de varrer o quarto ou não. Mas mais do que isso tudo: eu gerencio meu tempo. Nada de ficar dando satisfações sobre horários a chegar ou sair.
-Mas já está saindo? Onde vai? E vestido assim?
Essa liberdade, contudo, parece estar ao menos parcialmente ameaçada.
Pelo WhatsApp.
Eu deveria ter dito para a minha mãe que, na internet, as mensagens demoram um dia para chegar. E que nem sempre chegam já que precisam percorrer milhares de quilômetros em servidores, subir até os satélites e descer de volta bem no meu celular. É claro que o processo é tão complicado que deve falhar em boa parte das vezes.
Não, não consegui inventar a história a tempo. E agora vou parar este texto por aqui porque minha mãe está preocupada: já tem uns dez minutos que ela perguntou como foi meu dia e eu ainda não respondi.
19:38: Oi filho, como foi seu dia?
19:39: Aqui foi tudo bem. Tinham umas frutas boas no mercado e vou fazer uma salada de fruta para sobremesa depois da janta, nham nham!
19:42: Ai, vi o protesto que teve na Paulista no Jornal, não vá passar por lá hein? Fica longe dessas confusões....
19:45: Filho? Cadê você que não responde? Tá tudo bem?
19:46: Filho! Não fala mais comigo? Ai meu Deus... tá tudo bem?
Não, não tá.

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