sexta-feira, 18 de abril de 2008

Rotina

Recebi uma ligação. Aguardei um tempo. O professor terminou de falar, saí da sala.

E era assim, assim quando ele pensava estar super ocupado. Assim que surgia em seu íntimo essa sensação de compromisso, de importância, de inusitado. Um telefonema urgente com algo imprevisto acontecendo que demandava sua atenção. E assim também no dia seguinte.

-O que você pensa em fazer quando concluir o curso?

Não sei, realmente não sei. Olha, poucas vezes parei para pensar sobre isso, sabia?

E não pensava mesmo. Os dias distantes constituiam abstração intensa demais, não valia a pena. A vida parecia jamais poder perder esse sabor de ser fundamentalmente a nitidez dos próximos cinco minutos. E agia assim com muitas coisas, muitas. Dos mais variados campos. Das mais distintas naturezas. Parecia de fato que tinha por único plano feito fugir de toda espécie de planejamento. Afinal, estes poderiam ter o grave efeito colateral de levar a alguma realização. E se algum grande desejo se realizasse? E se algum grande sonho se mostrasse conquistado? O que seria do sonhar em si? Ele lembrava vividamente das vezes em que abrira os presentes de natal. Não os abre mais. E a vida parece ir indo cada vez mais ao longe assim. Cada vez mais sem fim.

-Poucos no seu lugar teriam deixado essa oportunidade passar, se é que alguém o faria. Você tem alguma idéia do que estou tentando lhe dizer?

Que as pessoas agem como lhes foi ensinado ser convenientemente correto. E eu só estou tentando me fazer conveniente. Um dia aprendo.

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