Lembro do dia em que a vi pela primeira vez, aquele encontro marcado esperando o destino acalmar. Fui para causar a melhor das impressões. Calcei meus melhores sorrisos, vesti uma camisa de bons tratos e, para proteger de qualquer eventual frio naquela sacada de céu estrelado, joguei por sobre tudo um casaco do mais puro bom humor.
Casamos. À igreja fui com um terno de timidez alugada, que hoje em dia não se usa ter essas coisas de posse própria.
Naqueles tempos difíceis de pintar paredes e inventar quintais trabalhava o dia inteiro. Só a via aos finais de semana. Vivíamos juntos, mas íamos nos apresentando ainda. Eu costumava colocar uma bermuda de irreverência, meu boné de frases feitas e meu chinelo velho de risadas fáceis, que quanto mais velho mais confortável fica.
Hoje somos íntimos. Antes de deitarmos, sento à beira da cama. Meia luz. Tiro meus sorrisos fáceis, botão a botão; jogo-os sobre ela com desdém desafiador. Está frio. Ainda assim, me desfaço de minhas melancolias escondidas, puxando-as das pernas com os pés. Dos pés, tiro minha solidão secreta e minhas lembranças pseudo-esquecidas, que em dias normais me aquecem por debaixo de belos sapatos de auto-estima exaltada e extrovertida. Sempre muito bem lustrados.
Deito-me ao lado dela e nos cobrimos de segredos pesados e macios. Quentinho bom. Tiro por fim, devagar, meus receios desmedidos, pudores mentirosos... Aí então ali, junto a ela, despido de tudo o que sou, a amo. Aí então ali faço do amá-la tudo o que sou.
quarta-feira, 2 de abril de 2008
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3 comentários:
Que belo texto! Adorei!
Algumas coisas ficam mais belas vestidas com tuas palavras bem escolhidas!
bjs
achei o seu blog no de uma amiga.
a delicadeza das suas palavras com as imagens fortes mas doces. achei lindo. tava procurando uma boa 'exposição' sobre o amor sem grandes 'explicações'.
obrigada,
beijo
Teu texto simples e singelo encanta, volto mais vezes no teu blog!
=]
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